Terapias básicas e avançadas: uma reflexão clínica

Terapias básicas e avançadas: uma reflexão clínica

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Em reflexão clínica, Roger Kirschner destaca a importância da realização de inúmeros tipos de tratamento prévios à toxina e preenchedores.

Depois de alguns anos realizando atendimentos clínicos e ministrando cursos na área de Harmonização Orofacial, sinto-me mais à vontade para compartilhar uma percepção diferente da maioria dos profissionais que atuam nessa área.

A programação de nossos cursos básicos abrange, geralmente, o diagnóstico da face e as injeções de toxina botulínica, de preenchedores à base de ácido hialurônico (em lábios, sulco nasogeniano, mento e malar), e de enzimas para emulsificação de gordura submentoniana – a lipo enzimática de papada. As imersões avançadas, por sua vez, abrangem fios de polidioxanona (lisos e espiculados), microagulhamento, intradermoterapia, bioestimuladores, plasma rico em plaquetas, carboxiterapia e radiofrequência.

Os cursos foram desenhados dessa forma pela solicitação dos próprios alunos e dos pacientes, e, muito provavelmente, porque nós, professores, também aprendemos assim. No consultório, frequentemente planejamos a cronologia de procedimentos assim, posicionando a toxina botulínica e os preenchedores à frente de outras terapias.

No entanto, venho percebendo claramente que os resultados clínicos da toxina e dos preenchedores ficam muito mais visíveis e efetivos quando o paciente se preocupa em melhorar a qualidade da pele, estimular a produção endógena de colágeno e hidratar o tegumento – resultados específicos das terapias ditas “avançadas”, conforme já venho falando desse assunto nas edições anteriores.

Pensando em termos cronológicos, o ideal seria começar pelo tratamento da pele desde a sua superfície até as camadas subcutâneas, ou seja, inverter a ordem do fluxograma de terapias normalmente empregado.

Para falar a verdade, eu e minha equipe temos utilizado cada vez menos preenchedores à base de ácido hialurônico reticulado, e cada vez mais bioestimuladores e mesclas à base de ácido hialurônico sem reticulação, associado a diversos fármacos específicos para aquilo que se deseja tratar.

A principal vantagem dessa abordagem é a de que o paciente tem uma ideia real de como ficaria o seu preenchimento por pelo menos três meses. Funciona como um mock-up do preenchimento e da escultura, porque o ácido hialurônico a 4% utilizado nas mesclas de intradermoterapia, embora não tenha reticulação, tem efeito preenchedor pela consistência em gel. Se o paciente gostar do primeiro resultado (cujo custo é bastante reduzido), ele pode optar pela injeção do preenchedor de efeito mais duradouro à sua escolha, com maior segurança clínica e disposição para investir mais. E quando ele fizer o preenchimento ou a escultura da mesma estrutura facial previamente tratada, certamente o tecido daquela região estará mais ativo, vascularizado, hidratado e necessitará de menor quantidade de material para alcançar um resultado clínico satisfatório.

Além do menor custo, a intradermoterapia com mesclas tem outra vantagem em comparação aos preenchedores convencionais à base de ácido hialurônico: eles não têm a capacidade de pressionar ou ocluir os vasos sanguíneos, diminuindo o risco de intercorrências associadas aos eventos vasculares.

Os preenchedores reticulados têm inúmeras vantagens, como a biocompatibilidade, o tempo de duração e a possibilidade de reversibilidade (através da hialuronidase). Eles são muito importantes em Harmonização Orofacial e continuarão sendo utilizados quando bem indicados. Entretanto, precisamos reconhecer que os nossos pacientes têm realizado procedimentos orofaciais cada vez mais cedo, e nós não sabemos ao certo quais serão as consequências teciduais em longo prazo.

O foco das terapias em Harmonização Orofacial deve ser voltado para a saúde, o bem-estar, a harmonia e a beleza da face em perspectiva de longevidade. Para que isso aconteça, a qualidade de hidratação, nutrição e fisiologia dos tecidos faciais deve ser otimizada. No caso de preenchedores reticulados, menos é mais.

Nós podemos – e devemos – realizar inúmeros tipos de tratamento prévios à toxina e preenchedores: radiofrequência, ultrassom, iontoforese, corrente galvânica, microcorrentes, peelings, intradermoterapia, fios de indução de colágeno, carboxiterapia, fotobiomodulação, ozonioterapia, concentrados sanguíneos, nutricosméticos e muitos outros.

Adicionalmente, precisamos nos preocupar em compartilhar com o paciente grande parte da responsabilidade do sucesso de qualquer terapia em Harmonização Orofacial e a importância do autocuidado diário, baseado no adequado consumo de água, na alimentação balanceada, no uso de suplementos (se necessário), no estilo de vida, no uso de filtro solar e nos mais diversos cuidados com a pele no home care. O sucesso depende da tríade paciente-produto-profissional.

Confira todas as edições da coluna “Materiais bioestimuladores”, de Roger Kirschner.

Roger Kirschner


Roger Kirschner
Mestre e especialista em Prótese Dentária e Especialista em Periodontia – SLMandic; Especialista em Implantodontia – FMU; MBA em Visagismo – Estácio.
Orcid: 0000-0002-9589-6094.