Escultura labial: procedimento estratégico na harmonia da face
Os lábios representam unidades anatômicas importantes para a harmonia estética facial.

Escultura labial: procedimento estratégico na harmonia da face

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Escultura labial: como potencializar seus conhecimentos sobre materiais preenchedores, a anatomia e a técnica utilizada para obter os melhores resultados para seu paciente.

Por Maristela Lobo

Os lábios representam unidades anatômicas importantes para a harmonia estética facial. Lábios bonitos – bem desenhados, volumosos e proporcionais à face – são desejados pela maioria das pessoas, independentemente do sexo1. Com o envelhecimento, agravado pelo efeito gravitacional, observa-se o aumento na distância entre a base nasal e a linha de transição da pele e a mucosa labial, além da diminuição da sua espessura.

Além disso, ocorre o aplainamento das colunas de filtro, a perda de visualização dos incisivos centrais superiores e o surgimento das rugas periorais – os indesejáveis “códigos de barras”2.

Os elementos anatômicos do lábio podem, e devem, ser reconstruídos com os procedimentos de escultura labial, desde que sejam respeitados os limites biológicos e anatômicos para tal. Inicialmente, é imprescindível conhecer profundamente a anatomia do lábio e dos tecidos periorais, além das suas possíveis variações. Posteriormente, convém adotar padrões estéticos flexíveis, que se adequem à face de cada paciente, unindo métrica e visagismo para melhor atender os anseios de quem solicita este procedimento.

Com relação à métrica labial, a literatura demonstra controvérsia sobre quais medidas seriam ideais para o equilíbrio e a harmonia da face. Alguns autores defendem que o vermelhão do lábio superior deve possuir uma proporção de 90,4%, em mulheres, e 85,7%, em homens, da espessura do inferior (Figura 1A)3. Em relação à altura, alguns autores consideram que a proporção ideal entre o vermelhão dos lábios superior e inferior é em torno de 40% e 60%, respectivamente4, enquanto outros defendem que o ideal, em jovens com o perfil reto, é uma proporção de 1:2 (Figura 1B)5.

Os lábios são caracterizados, anatomicamente, pela presença de colunas de filtro, vértices labiais, arco do cupido, contorno labial inferior e superior, comissuras ou ângulos labiais e corpo dos lábios superior e inferior.

A posição de cada área anatômica está descrita na Figura 2A. Em repouso, um lábio proporcional deve ter distância mesiodistal compatível com a distância entre os limites internos da íris. E durante a dinâmica do sorriso, as comissuras orais devem deslocar-se lateralmente ampliando a distância mesiodistal inicial, que agora deve compreender a distância entre os limites externos da íris (Figura 2B)6.

A vascularização labial advém da artéria facial, que emerge da porção anteroinferior do músculo masseter em direção às camadas superficiais, dividindo-se em artérias labiais superior e inferior (Figura 3). A principal artéria do lábio superior é a artéria labial superior (ALS), sendo que os ramos subalares (ASA) e septal (AS) são, às vezes, facultativos nesse processo7-8.

As intercorrências com o uso de preenchedores incluem equimoses, edema, eritema e hematomas, e tendem a ser temporárias. Já as complicações incluem infecções locais, reativação herpética, nódulos, granulomas e acidentes vasculares (embolização e/ou compressão) que podem levar à necrose.

Apesar da grande diversidade de técnicas de preenchimento labial, não existe consenso sobre qual a melhor delas9. No entanto, alguns autores10-11 trazem conselhos importantes para o uso seguro de preenchedores na região dos lábios:

  • Prefira o uso de microcânulas com ponta romba em áreas de maior chance de dano arterial, prevenindo a injeção diretamente dentro do vaso com a agulha convencional.
  • Mova a microcânula com suavidade durante a retroinjeção para evitar laceração tecidual excessiva e intercorrências (equimoses e hematomas).
  • Escolha agulhas/microcânulas de menor calibre, pois, embora a pressão inicial para injetar o produto seja maior, essa escolha favorece velocidade mais baixa de injeção e torna menos provável a oclusão vascular ou bloqueio do fluxo periférico.
  • Substitua a injeção manual por injeções controladas por computador.
  • Para facilitar a inserção da cânula, faça um pertuito com uma agulha de menor Gauge, por exemplo: se for usar uma microcânula de 25 G, use agulha 22 G.
  • Aspire antes de injetar o produto para verificar se a agulha/microcânula não está dentro da luz de um vaso e evite a injeção de grandes volumes de AH em planos menos distensíveis, prevenindo altas pressões nesses locais.
  • Faça o bloqueio anestésico e/ou a anestesia tópica para promover vasoconstricção arterial local – o que minimiza o risco de perfuração, que ocorre mais frequentemente em artérias vasodilatadas.
  • Evite fazer o preenchimento em áreas que já foram operadas, pois o risco é maior em tecido previamente traumatizado.
  • A injeção do material em profundidades maiores que 3 mm (da superfície da pele), logo abaixo do vermelhão, pode ser considerada segura para a projeção dos lábios.
  • A injeção mais profunda com microcânula 27 G, inserida longitudinalmente no meio do lábio para aumentar seu volume, pode ser considerada segura, pois a ALS não costuma ocupar essa porção mais central no lábio.
  • A injeção na borda do lábio inferior é segura. A trajetória da ALI acontece fora do vermelhão do lábio inferior, mais próxima ao rebordo alveolar. A maioria dos ramos labiais entra no vermelhão perpendicularmente, e as artérias marginais que a conectam com esses ramos terminais no vermelhão são de pequeno calibre.

O segundo e o terceiro ramos (V2 e V3) do nervo trigêmeo são os responsáveis pela inervação de ambos os lábios, e a anestesia intraoral é realizada através do bloqueio dos forâmenes infraorbitário e mentual, bilateralmente, com lidocaína 2% contendo adrenalina 1:100.000. A realização da escultura labial sob anestesia é bem mais confortável para os pacientes e mais tranquilo para o profissional. No entanto, uma vez que a anestesia pode alterar temporariamente a posição dos lábios, a avaliação inicial e o desenho dos limites anatômicos e das áreas labiais a serem preenchidas devem ser feitos previamente.

Existem inúmeras técnicas clínicas relatadas para reposicionar e reestruturar os tecidos e a estética dos lábios11.  A aplicação de toxina botulínica do tipo A no contorno labial gera suave eversão do mesmo, otimizando os resultados dos preenchedores (Figura 4). A denervação química do músculo depressor do ângulo oral, bilateramente, com 2 UI de BTX-A em cada músculo, também parece otimizar os resultados dos preenchedores labiais e pode aumentar sua duração. Para a escultura labial com preenchedores à base de ácido hialurônico reticulado de média densidade, existem inúmeras técnicas descritas. Algumas dessas técnicas estão descritas nas Figuras 5 a 7.

Esculpir lábios bonitos não se torna complexo quando existe respeito pela personalidade e pela expectativa do paciente, conhecimento amplo sobre a biologia e a anatomia dos tecidos envolvidos e domínio das características dos materiais utilizados e das nuances da técnica escolhida na escultura labial.

Referências

  1. Suguino R, Ramos AL, Terada HH, Furquim LZ, Maeda L, Silva Filho OG. Análise facial. Rev Dental Press Ortodon Ortop Facial 1996;1(1):86-107.
  2. Sforza C, Grandi G, Binelli M, Dolci C, De Menezes M, Ferrario VF. Age- and sex-related changes in three-dimensional lip morphology. Forensic Sci Int 2010;200(1-3):182.e1-7.
  3. Paixão MP, Montedonio J, Queiroz Filho W, Pouza CET, Almeida AEF. Lifting de lábio superior associado à dermabrasão mecânica. Surg Cosmet Dermatol 2011;3(3):249-53.
  4. Farkas LG, Katic MJ, Hreczko TA, Deutsch C, Munro IR. Anthropometric proportions in the upper lip-lower lip-chin area of the lower face in young white adults. Am J Orthod 1984;86(1):52-60.
  5. Mandy S. Art of the lip. Dermatol Surg 2007;33(4):521-22.
  6. Okuyama CC, Martins DR. Preferência do perfil facial tegumentar, em jovens leucodermas, melanodermas e xantodermas de ambos os sexos, avaliados por ortodontistas, leigos e artistas plásticos. Ortodontia 1997;30(1):6-18.
  7. Tansatit T, Apinuntrum P, Phetudom T. A typical pattern of the labial arteries with implication for lip augmentation with injectable fillers. Aesthetic Plast Surg 2014;38(6):1083-9.
  8. Al-Hoqail RA, Meguid EM. Anatomic dissection of the arterial supply of the lips: an anatomical and analytical approach. J Craniofac Surg 2008;19(3):785-94.
  9. Bartus CL, Sattler G, Hanke CW. The tower technique: a novel technique for the injection of hyaluronic acid fi llers. J Drugs Dermatol 2011;10(11):1277-80.
  10. Lazzeri D, Agostini T, Figus M, Nardi M, Pantaloni M, Lazzeri S. Blindness following cosmetic injections of the face. Plast Reconstr Surg 2012;129(4):995-1012.
  11. Lee SK, Kim HS. Recent trend in the choice of fillers and injection techniques in Asia: a questionnaire study based on expert opinion. J Drugs Dermatol 2014;13(1):24-31.