Fotoiniciadores alternativos em resinas compostas são realmente empregados e eficientes?
O uso de fotoiniciadores alternativos à CQ não é algo novo.

Fotoiniciadores alternativos em resinas compostas são realmente empregados e eficientes?

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Luis Felipe J. Schneider descreve o uso de fotoiniciadores alternativos e discute as evidências de sua utilização.

Na coluna da edição anterior, abordamos aspectos elementares de composição de todo compósito odontológico. Conforme foi falado, a combinação canforquinona(CQ)-amina tem sido amplamente utilizada desde a década de 1970. Entretanto, com o avanço dos materiais e a maior exigência estética, surgiram questionamentos em razão da sua coloração amarela e sua potencial influência negativa sobre a alteração de cor da restauração.

O uso de fotoiniciadores alternativos à CQ não é algo novo. No final da década de 1990 já existiam formulações com a substituição parcial ou total desse componente, como o caso da resina Pyramid Enamel (Bisco, EUA), formulado com óxido mono-alquil fosfínico. Esse fotoiniciador – muito conhecido no meio odontológico como Lucirin TPO (que é apenas o nome comercial desse componente fabricado pela companhia de produtos químicos BASF, Alemanha) – possui uma coloração que se aproxima do branco ou mesmo incolor. Assim, teoricamente, esses componentes seriam capazes de proporcionar uma restauração com melhor estabilidade das propriedades ópticas e poderiam ser empregados em altas concentrações, favorecendo o potencial de polimerizacão. Entretanto, o espectro de absorção de luz desses fotoiniciadores encontra-se na faixa do violeta e se estende para a região ultravioleta (UV) e, na virada do milênio, surgiram os primeiros aparelhos fotoativadores baseados na tecnologia dos LEDs azuis, os quais eram incapazes de ativar esse tipo de componente. Consequentemente, a aplicação de iniciadores alternativos à CQ praticamente desapareceu por algum tempo, mas tem sido retomada após o desenvolvimento de fontes de luz LED capazes de emitir mais de um espectro de luz.

Assim, surgiram fontes contendo emissores de luz azul, violeta e variações que podem existir entre essas cores (como o índigo). Indiscutivelmente, as fontes disponíveis no mercado brasileiro que possuem essas características são de qualidade extremamente elevada e apresentam desempenho excelente na capacidade de ativação das resinas compostas disponíveis, independentemente da formulação.

Entretanto, estudos laboratoriais têm mostrado que esse desempenho está associado à alta irradiância (mW/cm²) emitida por essas fontes, principalmente à capacidade de colimação dos feixes de luz, e não do uso de LEDs capazes de emitir luz na região violeta.

Isso ocorre pelo fato de a energia emitida nesta área ter baixa capacidade de penetração em grandes profundidades, como acontecia com as fontes de luz que emitiam energia na região do ultravioleta. Vale destacar também que, apesar de alguns estudos laboratoriais apresentarem evidências de melhora na estabilidade de cor, os dados são conflitantes e inconclusivos – especialmente quando consideradas resinas disponíveis comercialmente. Além disso, é sabido pela indústria de materiais que alterações de propriedades ópticas podem ser realizadas de forma eficiente sem que haja necessidade de mudança no sistema iniciador.

Dessa forma, até o momento, não é possível afirmar que o uso de iniciadores alternativos à CQ seja vantajoso, e é por esse motivo que a maioria das empresas continua empregando o eficiente sistema CQ+amina.

Referências

  1. Schneider LF, Pfeifer CS, Consani S, Prahl SA, Ferracane JL. Infl uence of photoinitiator type on the rate of polymerization, degree of conversion, hardness and yellowing of dental resin composites. Dent Mater 2008;24(9):1169-77.
  2. Brandt WC, Consani S, Sinhoreti MAC, Cavalcante LM, Schneider LF. Grau de conversão e densidade de ligações cruzadas de compósitos formulados com diferentes fotoiniciadores. RFO 2009;14(3):239-45.
  3. Schneider LF, Cavalcante LM, Prahl SA, Pfeifer CS, Ferracane JL. Curing effi ciency of dental resin composites formulated with camphorquinone or trimethylbenzoyl-diphenyl-phosphine oxide. Dent Mater 2012;28(4):392-7.
  4. Salgado VE, Rego GF, Schneider LF, de Moraes RR, Cavalcante LM. Does translucency influence cure efficiency and color stability of resin-based composites? Dent Mater 2018;34:957-66.
  5. Rocha MG, de Oliveira D, Sinhoreti M, Roulet JF, Correr AB. The Combination of CQ-amine and TPO increases the polymerization shrinkage stress and does not improve the depth of cure of bulk-fi ll composites. Oper Dent 2019;44(5):499-509.
  6. Schneider LF, Carmello AC, Pereira LDE, Couto Neto MP, Modena RA, Cavalcante LM. Influence of light-curings on the activation potential of bulk-fi ll composites. J Clin Dent Res 2019;16(3):128-41.