Confira a entrevista com Kyle Stanley, o cirurgião-dentista de Beverly Hills que se tornou uma das maiores referências internacionais do lip lift, ao lado de seu parceiro, o cirurgião-plástico Ben Talei.
por Maristela Lobo
Kyle Stanley é um cirurgião-dentista conhecido em Beverly Hills pela estética orofacial e pelas cirurgias de lip lift realizadas em conjunto com o cirurgião plástico Ben Talei. Em sua parceria bem afinada, eles praticam a interdisciplinaridade de maneira admirável: unindo conhecimentos biológicos e clínicos para o maior benefício do paciente. Juntos, eles realizam pelo menos oito procedimentos por semana, a maior casuística de lip lift da Odontologia mundial.
O lip lift é uma cirurgia de lifting labial – procedimento plástico realizado entre o nariz e o lábio superior, que tem como objetivo principal encurtar o lábio superior e expor mais o elemento dental. As principais indicações envolvem: ptose do lábio superior, em pacientes idosos que não expõem dentes; lábio superior longo ou pouca exposição de incisivos, embora estes tenham coroa clínica de tamanho satisfatório; e lábios excessivamente preenchidos. Durante a incisão, uma porção significativa de pele é removida, visando reposicionar o lábio superior no sentido vertical, considerando toda a sua extensão mesiodistal.
Em junho deste ano, a equipe da FACE esteve em Miami (EUA) para participar do DSD Orofacial Club Meeting e teve a oportunidade de entrevistar Stanley e discutir as principais vantagens e os riscos indesejáveis da cirurgia de lip lift.
Maristela Lobo e Kyle Stanley, durante seu encontro no DSD Orofacial Club Meeting, em Miami (EUA).
FACE – Quais as reais indicações clínicas desse procedimento plástico?
Kyle Stanley – A primeira indicação envolve os pacientes cujos lábios aumentaram de comprimento com o passar do tempo, denominados “lábios envelhecidos”, que representa a maioria dos pacientes que operamos. A segunda indicação envolve os pacientes que naturalmente possuem o lábio superior longo, embora sejam pacientes jovens. E a terceira indicação representa os pacientes que possuem excesso de preenchedores no lábio superior, o que causa a aparência de lábios envelhecidos. Esses casos estão mais relacionados com a quantidade de preenchedores e com o excesso de volume do que com o tipo do material injetado previamente. Nós não recomendamos o uso de preenchedores permanentes (como o PMMA) ou semipermanentes no lábio, que possam agir como o silicone.
FACE – É preferível realizar a cirurgia de lip lift antes ou depois de uma Reabilitação Oral?
Stanley – Essa é uma boa pergunta. A resposta é: depende. Existem dois caminhos: nós normalmente realizamos o lip lift antes da Reabilitação Oral definitiva, mas somente após definir completamente o plano de tratamento e a sequência clínica de execução. Então, algumas vezes nós determinamos o plano de tratamento, Ben faz a cirurgia e eu adapto as restaurações ao novo lábio. Outras vezes, eu realizo o mock-up na boca e Ben adequa o lábio a esse ensaio restaurador, e podemos fazer pequenas alterações nas restaurações finais dependendo do resultado final do lábio após a cirurgia. Isso porque quando lidamos com tecidos moles, mesmo que tenhamos protocolos bem definidos, a posição final do lábio pode mudar em um intervalo de 1 mm a 2 mm. Cada paciente é diferente. Com dentes e tecidos duros, nós conseguimos alcançar as medidas definidas previamente no planejamento inicial. Dessa forma, a resposta mais curta é: usualmente, o lip lift deve ser realizado antes da Reabilitação Oral, mas somente após a definição concreta do plano de tratamento.
FACE – O que pode dar errado em uma cirurgia desse porte?
Stanley – Assim como em qualquer cirurgia, podem ocorrer: sangramento, edema, dor e infecções. A complicação mais comum que observamos, talvez nas mãos de doutores inexperientes, é a cicatriz. É a maior preocupação dos pacientes. Acredito que a técnica que realizamos gera um período de cicatrização estendido, mas ao mesmo tempo reduz a formação de cicatrizes indesejáveis. O resultado é melhor. Alguns profissionais realizam o lip lift com outras técnicas, com menor período de cicatrização, mas com maior risco de cicatrizes aparentes. Tudo deve ser conversado com o paciente, para ter a certeza de que ele estará ciente e aceita um período de cicatrização de seis a oito semanas.
FACE – Quais são as contraindicações para esse procedimento?
Stanley – A principal é quando o lábio é curto ou quando já existe excessiva exposição de incisivos com lábios em repouso. Para os pacientes que possuem implantes de silicone nos lábios, você ainda pode fazer, mas os lábios não costumam cicatrizar tão bem. Por último, os pacientes que tendem a formar queloides. Os pacientes com essa tendência geralmente já sabem disso e nos informam antes de quaisquer procedimentos.
FACE – Existe uma idade mínima e/ou máxima para a sua realização?
Stanley – Acreditamos que não. No entanto, devemos aguardar o crescimento esquelético completo. Nós fazemos o lip lift em pacientes de todas as idades.
FACE – Quais são os cuidados pré e pós-operatórios?
Stanley – Os cuidados pré-operatórios são geralmente para nós, profissionais, e estão relacionados ao plano de tratamento apropriado. No pós-operatório, a principal recomendação para o paciente é evitar o movimento de tração do lábio superior, tentando cobrir totalmente os dentes superiores com o lábio, ou a compressão entre os lábios superior e inferior, como quando a mulher passa o batom e esfrega os lábios para espalhá-lo. Esse movimento tende a abrir e ampliar a cicatriz sob o nariz. A primeira semana após a cirurgia é mais difícil, em função do edema, da possibilidade de sangramento e do risco de infecção. Após duas semanas, a área operada tende a ficar rígida, o que é bom, porque limita o movimento da região. Essa rigidez do lábio superior dura cerca de seis semanas. Após três meses, consideramos que o tecido está 90% cicatrizado. Os últimos 10% da cicatrização pode levar mais nove meses. Então, para um resultado concreto, um ano de pós-operatório é o ideal.
Além disso, o paciente deve manter a incisão úmida por duas semanas, aplicando medicações exatamente como prescritas. Nós removemos as suturas externas, em média, em uma semana, no máximo, duas. As suturas externas, reabsorvíveis, mantêm os tecidos na posição. As suturas externas são somente para aproximar os bordos da ferida cirúrgica, por isso podem ser removidas entre quatro e seis dias. No mais, o paciente precisa aplicar gelo por alguns dias, manter um repouso relativo e limitar os movimentos faciais, além de fazer uso das medicações (antibióticos, anti-inflamatórios e analgésicos). A dor costuma ser leve.
FACE – O que define o sucesso dessa cirurgia?
Stanley – O paciente precisa estar feliz e satisfeito com o resultado. Deve haver harmonia de filtro labial, harmonia da face, ausência de tensão visual – tanto no aspecto frontal quanto no aspecto lateral ou de perfil – e boa exposição de incisivos com lábios em repouso.
FACE – Vocês fazem aplicações de toxina botulínica previamente a essa cirurgia por alguma razão?
Stanley – Usualmente não. Poderia ser uma boa ideia, porque o paciente não moveria o lábio no pós-operatório, mas não fazemos.
FACE – Qual o período adequado de avaliação pós-operatória para definir sucesso/insucesso relacionados a esse procedimento?
Stanley – Usualmente, três meses. Momento em que fazemos as fotos pós-operatórias e avaliamos tudo. Se acharmos que tudo está bem aos três meses de cicatrização, seguimos com a finalização da reabilitação.
FACE – Em sua opinião, o cirurgião-dentista que realiza esse tipo de cirurgia deve ter qual especialidade?
Stanley – Não acho necessário. Acredito que o treinamento apropriado é necessário. Nós treinamos vários cirurgiõesdentistas, de todas as especialidades, cirurgiões orais, periodontistas, geralmente profissionais que possuam alguma habilidade cirúrgica prévia. É preciso entender de retalhos, suturas, anatomia, tecidos… A incisão ocorre em pele e a divulsão tecidual acontece entre a gordura e o músculo, até a borda da área avermelhada do lábio, de comissura a comissura. Técnicas prévias faziam somente a remoção de porções de pele, sem divulsionar o tecido. Essas técnicas promoviam muita tensão no retalho, resultando em cicatrizes desagradáveis. A liberação do retalho através da divulsão diminui a tensão do retalho, e é por isso que o período de cicatrização é maior.
FACE – Qual a principal vantagem de realizar esse procedimento? Pode-se dizer que a motivação para a sua realização é estritamente estética ou é estética e funcional?
Stanley – Tópico difícil. Certamente é um procedimento estético. Mas em alguns pacientes a cirurgia pode ajudar nas vias aéreas.
FACE – Existe alguma alteração no movimento do lábio superior após essa cirurgia plástica?
Stanley – Não, porque não interferimos na atividade da musculatura. A função muscular é completamente preservada e retorna após a completa cicatrização do paciente. Somente o aspecto tegumentar (pele) permanece alterado após a cirurgia.
FACE – Em caso de intercorrências ou efeitos adversos, como proceder?
Stanley – Depende muito da expectativa versus ansiedade do paciente. A maioria das complicações está associada às cicatrizes. Algumas vezes, o Dr. Ben Talei precisa tratar as cicatrizes com laserterapia. Complicações pós-cirúrgicas simples podem ocorrer (sangramento, edema, hematoma, infecções), e são facilmente administradas. Raramente precisamos refazer alguma cicatriz, mas pode acontecer. Algumas vezes refazemos lábios que já foram previamente operados por outros profissionais no passado.
FACE – A cicatriz pode ser uma preocupação por parte do paciente. Quais os reais riscos de que essa cirurgia resulte em cicatrizes indesejadas, aparentes, ou até mesmo a formação de queloides?
Stanley – A cicatriz depende da técnica do cirurgião, do comportamento pós-operatório do paciente e da qualidade da cicatrização inerente a cada paciente. Colocamos a cicatriz na base do nariz, nunca dentro do nariz. A incisão mimetiza a junção entre o lábio e o nariz. A sutura interna é realizada com PDS, um material de lenta reabsorção. A sutura externa é realizada com nylon. Não fazemos bandagem, só prescrevemos Aquaphor ou vaselina, algo para manter a cicatriz hidratada.
FACE – Existe algum outro procedimento na Odontologia ou na cirurgia plástica que possa gerar o mesmo resultado clínico?
Stanley – Não temos conhecimento. Alguns profissionais tentaram técnicas de redução de altura do lábio sem incisão, o que pode parecer ótimo, mas que não geram resultados clínicos satisfatórios. Procedimentos mais invasivos podem gerar intervenções adicionais menos invasivas, em outras fases do tratamento. Essa é a nossa perspectiva. Por exemplo: se um paciente quer mostrar mais dentes e tem um lábio longo, podemos propor dez elementos cerâmicos. Mas, se conseguirmos colocar o lábio na posição correta, podemos manter os dentes naturais do paciente, clareá-los e fazer a Ortodontia. Pode ser menos invasivo do ponto de vista odontológico, e mais invasivo do ponto de vista da cirurgia plástica.
FACE – Vocês associam esse procedimento com preenchedores?
Stanley – Sim, algumas vezes. Quando notamos que o lábio superior aparenta ter mais volume do que o lábio inferior, preenchemos o lábio inferior para alcançar o equilíbrio de proporções. Consideramos a proporção de 0,7:1 entre lábio superior e lábio inferior, respectivamente.