O mundo Vuca e a Odontologia

O mundo Vuca e a Odontologia

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Maristela Lobo analisa o acrônimo inglês Vuca (volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade) no contexto da Odontologia na pandemia. 

Neste ano de 2021, muita coisa está diferente. Claro que estamos vivendo os reflexos provocados pela Covid-19, mas talvez jamais imaginássemos o quão extenso e complexo estaria o cenário mundial pouco mais de um ano depois do anúncio da pandemia, até mesmo com a existência de diferentes vacinas para esse vírus mortal.

Recentemente, ouvi de um amigo algumas reflexões sobre o “mundo Vuca” – expressão que surgiu durante a Guerra Fria, na década de 1990, para classificar o contexto de caos e de difícil previsão de cenários daquela época. Tornou-se um termo comum no mundo corporativo atual e passou a traduzir a instabilidade, a imprevisibilidade e a impossibilidade de fazer planos diante de mudanças tão velozes em todas as áreas e profissões. É a nossa realidade hoje.

Será que estamos preparados para viver de maneira instável, sem garantias de estabilidade futura e tendo que nos adaptar na mesma velocidade em que o cenário se modifica? Até quando esperaremos que tudo volte ao “normal”? Se decifrarmos o acrônimo inglês Vuca em volatilidade (volatility), incerteza (uncertainty), complexidade (complexity) e ambiguidade (ambiguity), passamos a perceber que esses quatro substantivos estão realmente presentes, desafiando todas as previsões que foram feitas no passado ou que serão feitas para o futuro.

Diante de situações complexas, podemos ter basicamente dois posicionamentos: a reatividade e a proatividade. Reclamar do que está acontecendo, queixar-se, ficar bravo, demonstrar indignação, polarizar-se, inflamar-se – todas essas são atitudes reativas que, ainda que sejam naturais, nos mantêm na inércia e consomem uma energia que deve estar canalizada para o movimento de adaptação e criatividade. Adaptar, reinventar, flexibilizar, respeitar, agregar, aprender, criar, arriscar e mover-se em frente são atitudes proativas que expandem o nosso universo de possibilidades e nos levam além da percepção do caos. Aceitar o “novo normal”, ser solidário e humano, adquirir fluidez e tenacidade são características fundamentais para sobreviver nesse ambiente. Estamos lidando com pacientes reativos e proativos, atingidos em cheio pela tragédia ou longe dela, imunizados ou não, e certamente polarizados – mas todos com o único desejo de que tudo retorne ao que era antes, ou seja, o desejo de retomar a juventude que um dia significou paz, ainda que seja uma utopia no momento presente.

Nesse contexto, qual papel nós devemos exercer como cirurgiões dentistas, profissionais da Saúde e do bem-estar? Nossa missão sempre foi cuidar de pessoas, não apenas de dentes. Cuidaremos para manter nossos pacientes acolhidos, tratados com dignidade e respeito; cuidaremos para oferecer um pouco do retorno à tão desejada juventude, devolvendo o brilho do sorriso em conjunto com a face harmoniosa; cuidaremos para transferir humanidade e solidariedade para diminuir o estresse que se traduz em parafunções, disfunções, dores, dentes fraturados e ainda mais sofrimento. Temos um papel grandioso, essencial e, ao mesmo tempo, de imensa responsabilidade. Com certeza, lembraremos para sempre deste momento – e os nossos pacientes se lembrarão de como fomos importantes para eles durante esse período.