A importância do tecido queratinizado ao redor de implantes

A importância do tecido queratinizado ao redor de implantes

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De grande importância para a saúde e estética peri-implantar, o tecido mole queratinizado bem trabalhado pode minimizar intercorrências.

Muitas dúvidas ainda existem sobre a importância do tecido mole ao redor dos implantes para a manutenção da saúde e estética peri-implantar. Sabe-se que a reabilitação de qualidade e longeva apresenta diversos fatores para seu sucesso, desde o implante bem posicionado no arco, a prótese com excelente adaptação e o tecido mole de qualidade.

Neste sentido, diversos estudos trazem a discussão sobre a necessidade da mucosa peri-implantar queratinizada. Sua presença tem sido relacionada à capacidade do paciente realizar adequadamente a higiene bucal ao redor dos implantes e, consequentemente, reduzir a chance de desenvolver mucosite e peri-implantite¹. Assim, preparamos algumas questões a serem respondidas para auxiliar no dia a dia clínico e elucidar alguns tópicos relacionados a esse tema.

1. Qual a diferença entre altura e espessura de mucosa queratinizada?

Altura da mucosa queratinizada peri-implantar é a distância no sentido ápico-coronal do tecido queratinizado, da margem mucosa até a linha mucogengival. Já a espessura é uma medida tomada no sentido horizontal, a partir do epitélio oral em direção à porção mais próxima ao implante, em diferentes alturas da mucosa peri-implantar – podendo ou não ser queratinizada e ainda variando conforme o tipo do implante instalado². Tem sido sugerida que uma faixa de 2 mm seja adequada para a manutenção da saúde e estética peri-implantar.

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2. Qual a espessura adequada de mucosa peri-implantar?

Sua espessura está relacionada principalmente à estética peri-implantar², mas já esteve associada ao volume de remodelação óssea ao redor do pescoço do implante³, situação observada para diferentes conexões protéticas quando as dimensões da mucosa queratinizada são reduzidas4. Revisões sistemáticas verificaram que a presença da papila entre implantes parece ser mantida no caso de uma mucosa peri-implantar mais espessa5 e, conforme observado mais recentemente, uma mucosa com espessura inferior a 2 mm é considerada fina².

3. É a mucosa queratinizada que determina a previsibilidade da manutenção da saúde peri-implantar?

Parece que a presença da mucosa queratinizada peri-implantar pode estar associada à melhor manutenção dos pacientes reabilitados com próteses implantossuportadas¹. Também parece ocupar uma posição preponderante nas questões estéticas relativas às deficiências do rebordo ou compensação pela tábua óssea vestibular fina². Mas é muito importante compreender que a sua presença faz parte dos requisitos necessários para o sucesso das reabilitações, como:

1) posicionamento tridimensional adequado do implante dentro do rebordo;
2) conexões protéticas que permitam higiene pessoal;
3) espaço interimplante/dente adequado.

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Sua presença é assunto controverso, entretanto há estudos que sugerem que tão importante quanto a presença de faixa de mucosa queratinizada, bem como a altura mínima de 2 mm6, é a altura dos componentes protéticos. Isso porque, aparentemente, em um estudo clínico, pilares mais altos propiciaram menor remodelação da crista óssea em até um ano de carga em implantes com hexágono interno e plataforma switching, mesmo em rebordos nos quais a espessura da mucosa queratinizada foi de até 2 mm.7.

4. Diferentes conexões protéticas permitem diferentes alturas de mucosa peri-implantar, mantendo a mesma qualidade de saúde dos tecidos?

A altura dos tecidos moles peri-implantares que circundam todo o implante apresenta diferentes medidas, a depender das diferentes conexões protéticas, posição do implante no arco e posição de instalação com relação à crista óssea². A altura destes tecidos é considerada normal entre 3 mm e 4 mm.6

5. Quais são as indicações para o aumento de mucosa queratinizada?

Estudos clínicos com implantes instalados em região posterior, abaixo da crista óssea e com conexão morse, mostraram diferença na quantidade de remodelação da crista óssea peri-implantar quando a mucosa queratinizada apresentava pelo menos 2 mm de espessura. Esta informação justificaria o aumento da espessura do tecido mole no momento da instalação do implante8. Outros resultados clínicos provenientes de estudos comparando a importância da espessura da mucosa peri-implantar na remodelação da crista óssea em implantes com plataforma switching também reforçaram a ideia de que em rebordos com mucosa menor do que 2 mm de espessura é observada maior remodelação da crista9.

Assim, com essas perguntas e respostas, elucidamos sobre a importância do tecido queratinizado ao redor dos implantes. As FIGURAS 1 e 2 demonstram dois diferentes perfis da mucosa peri-implantar, sendo um favorável e outro menos favorável. A partir deste conhecimento, já é possível diagnosticar a necessidade de mudanças de fenótipos peri-implantares nos pacientes. Então, vamos “enxertar”.

Referências

1. Perussolo J, Souza AB, Matarazzo F, Oliveira RP, Araújo MG. Influence of the keratinized mucosa on the stability of peri-implant tissues and brushing discomfort: a 4-year follow-up study. Clin Oral Implants Res 2018;29(12):1177-85.

2. Avila-Ortiz G, Gonzalez-Martin O, Couso-Queiruga E, Wang HL. The peri-implant phenotype. J Periodontol 2020;91(3):283-8.

3. Berglundh T, Lindhe J. Dimension of the peri-implant mucosa. Biological width revisited. J Clin Periodontol 1996;23(10):971-3.

4. Sukekava F, Pannuti CM, Lima LA, Tormena M, Araújo MG. Dynamics of soft tissue healing at implants and teeth: a study in a dog model. Clin Oral Implants Res 2016;27(5):545-52.

5. Thoma DS, Muhlemann S, Jung RE. Critical soft-tissue dimensions with dental implants and treatment concepts. Periodontol 2000 2014;66(1):106-18.

6. Araujo MG, Lindhe J. Peri-implant health. J Periodontol 2018;89(suppl.1):249-56.

7. Spinato S, Stacchi C, Lombardi T, Bernardello F, Messina M, Zaff e D. Biological width establishment around dental implants is influenced by abutment height irrespective of vertical mucosal thickness: a cluster randomized controlled trial. Clin Oral Implants Res 2019;30(7):649-59.

8. Puisys A, Linkevicius T. The infl uence of mucosal tissue thickening on crestal bone stability around bone-level implants. A prospective controlled clinical trial. Clin Oral Implants Res 2015;26(2):123-9.

9. Linkevicius T, Puisys A, Steigmann M, Vindasiute E, Linkeviciene L. Influence of vertical soft tissue thickness on crestal bone changes around implants with platform switching: a comparative clinical study. Clin Implant Dent Relat Res 2015;17(6):1228-36.