Espessura da margem gengival e a técnica de recobrimento radicular. Qual a influência?
O fenótipo gengival pode ser um fator influenciador importante na previsibilidade.

Espessura da margem gengival e a técnica de recobrimento radicular. Qual a influência?

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Marcelo Faveri aborda os mecanismos para a avaliação da espessura da margem gengival e as melhores técnicas.

O conhecimento do biotipo periodontal, ou fenótipo gengival, como é chamado mais atualmente – segundo a nova classificação das doenças e condições periodontais e peri-implantares da Academia Americana de Periodontia e Federação Europeia de Periodontia¹ –, vem sendo muito estudado ao longo dos anos e novos conhecimentos chegam a todo momento.

Você sabe que o fenótipo gengival pode ser um fator influenciador importante na previsibilidade e, consequentemente, no sucesso dos diversos tratamentos odontológicos e nas diferentes especialidades. Além disso, é um ponto importante na árvore de decisão para escolha da técnica cirúrgica para procedimentos de recobrimento radicular.

Fenótipos gengivais classificados como finos estão mais correlacionados ao aparecimento de recessões gengivais, deiscência e fenestração ósseas, além de apresentarem menor resistência a traumas durante a escovação2. Também estão relacionados à menor previsibilidade pós-cirúrgica em se tratando de estabilidade tecidual, o que resulta em maior dificuldade de manutenção de retalhos e formação de papilas adjacentes a implantes imediatos. Por outro lado, o fenótipo espesso parece ser mais resistente ao trauma mecânico e apresenta maior estabilidade do ponto de vista pós-cirúrgico2.

Assim, conhecendo as características dos tecidos periodontais, há maior chance de melhorar nossos planejamentos e decisões técnicas para escolha dos procedimentos cirúrgicos envolvidos nos procedimentos de recobrimento radicular. Do ponto de vista clínico, existem dois mecanismos para avaliar a espessura da margem gengival. Utilizando a metodologia proposta3, pode-se classificar o fenótipo gengival em fino ou espesso, baseando-se na translucidez da sonda periodontal. Ao ser posicionada no sulco gengival, se a sonda periodontal for visualizada através do tecido, o fenótipo é categorizado como fino; caso contrário, é classificado como espesso.

Outro método, mais detalhado e recentemente proposto4, utiliza um conjunto de três sondas categorizadas em diferentes cores (Biotype Colorvue), que pode classificar a margem gengival como fina, intermediária, espessa ou muito espessa. Ambos são métodos úteis que podem nos ajudar em nosso dia a dia clínico.

Por exemplo, em um estudo de casos5, o fenótipo gengival foi mensurado com a utilização de sondas Colorvue de recessões gengivais rasas. Os autores observaram bons resultados pós-cirúrgicos após o procedimento de tunelização sem a associação de enxerto subepitelial em fenótipos espessos e muito espessos (taxa de recobrimento de 84,57% ± 31,1%, e taxa de recobrimento completo de 77,8%).

Em outra recente evidência sobre a importância do fenótipo periodontal6, os autores observaram bons resultados para o avanço coronário do retalho sem a associação de enxerto subepitelial para o recobrimento radicular quando a espessura gengival foi > 0,84 mm. De fato, vários estudos vêm reportando evidências similares6-7.

Finalizando, cada vez mais a análise da qualidade tecidual ao redor das recessões gengivais deverá ser verificada previamente à cirurgia de recobrimento, e este ponto irá nos ajudar a decidir qual técnica escolher. Assim, as evidências atuais convergem para quando tivermos situações clínicas de recessões gengivais: onde nosso paciente tiver 2 mm de tecido queratinizado, recessões gengivais rasas e um fenótipo espesso (> 0,80 mm), a técnica cirúrgica para o recobrimento radicular talvez não precise da associação do enxerto subepitelial. Fantástico, não? Concluindo, o conhecimento desses pontos é um grande benefício para nosso paciente.

Referências

  1. Cortellini P, Bissada NF. Mucogingival conditions in the natural dentition: narrative review, case definitions, and diagnostic considerations. J Periodontol 2018;89(Suppl 1):S204-13.
  2. Zweers J, Thomas RZ, Slot DE, Weisgold AS, Van der Weijden FG. Characteristics of periodontal biotype, its dimensions, associations and prevalence: a systematic review. J Clin Periodontol 2014;41(10):958-71.
  3. De Rouck T, Eghbali R, Collys K, De Bruyn H, Cosyn J. The gingival biotype revisited: transparency of the periodontal probe through the gingival margin as a method to discriminate thin from thick gingiva. J Clin Periodontol 2009;36(5):428-33.
  4. Rasperini G, Acunzo R, Cannalire P, Farronato G. Infl uence of periodontal biotype on root surface exposure during orthodontic treatment: a preliminary study. Int J Periodontics Restorative Dent 2015;35(5):665-75.
  5. Rasperini G, Codari M, Limiroli E, Acunzo R, Tavelli L, Levickiene AZ. Graftless tunnel technique for the treatment of multiple gingival recessions in sites with thick or very thick biotype: a prospective case series. Int J Periodontics Restorative Dent 2019;39(6):e203-10.
  6. Cairo F, Cortellini P, Pilloni A, Nieri M, Cincinelli S, Amunni F et al. Clinical efficacy of coronally advanced flap with or without connective tissue graft for the treatment of multiple adjacent gingival recessions in the aesthetic area: a randomized controlled clinical trial. J Clin Periodontol 2016;43(10):849-56.
  7. Rasperini G, Acunzo R, Pellegrini G, Pagni G, Tonetti M, Pini Prato GP et al. Predictor factors for long-term outcomes stability of coronally advanced flap with or without connective tissue graft in the treatment of single maxillary gingival recessions: 9 years results of a randomized controlled clinical trial. J Clin Periodontol 2018;45(9):1107-17.