Toxina botulínica: efeitos indesejados nos músculos mastigatórios
(Imagem: Shutterstock)

Toxina botulínica: efeitos indesejados nos músculos mastigatórios

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A mastigação é um processo dinâmico e complexo. Esse processo não é simplesmente decompor os alimentos para a deglutição, mas também está em contato íntimo com a saúde bucal, a saúde geral e a qualidade de vida de um indivíduo. Portanto, a avaliação da função mastigatória é muito significativa nos campos odontológicos. Pode haver vários métodos de avaliação da função mastigatória. Os estudos sobre a função mastigatória em campos dentais são focados principalmente em Prótese Dentária, que estão relacionados à mudança de oclusão após o tratamento odontológico. No entanto, tem havido um número insuficiente de estudos sobre alterações na função mastigatória após a injeção da toxina botulínica nos músculos mastigatórios.

Como a toxina botulínica foi adaptada em várias regiões orofaciais, a sua atuação nos músculos mastigatórios, como o músculo masseter e o músculo temporal, também não foi diferente. Quando a toxina é injetada nos músculos mastigatórios, provoca fraqueza temporária e atrofia, devido à sua farmacologia, auxiliando nos casos de bruxismo e apertamento severos.

O bruxismo é uma parafunção que pode ocorrer durante o sono ou durante a vigília, sendo também classificado de acordo com o tipo de prevalência da contração muscular – cêntrico ou excêntrico. O bruxismo durante a vigília, ou cêntrico, manifesta-se principalmente pelo apertamento dental, e é considerado um comportamento adquirido¹. O apertamento é definido como o travamento forçado dos maxilares em uma relação estática. A pressão criada pode ser mantida por um tempo considerável, com alguns períodos de relaxamento. O apertamento não resulta necessariamente em dano aos dentes, pois a concentração da pressão é direcionada através do longo eixo dos dentes posteriores, sem o envolvimento de forças laterais; com isso, a maior carga pode resultar em dano ao periodonto, à articulação temporomandibular (ATM) e aos músculos da mastigação – como o masseter e o temporal –, causando hipertrofia nesses músculos².

A hipertrofia benigna do músculo masseter é um fenômeno clínico incomum de etiologia incerta, caracterizado por um inchaço mole próximo ao ângulo da mandíbula. O inchaço pode ocasionalmente estar associado à dor facial e pode ser proeminente o suficiente para ser considerado cosmeticamente desfigurante. Variados graus de sucesso foram relatados para algumas das opções de tratamento para hipertrofia de masseter, que vão desde a farmacoterapia simples até a redução cirúrgica mais invasiva.

A injeção de toxina botulínica tipo A no músculo masseter é geralmente considerada uma modalidade menos invasiva, e tem sido defendida para a modelagem cosmética da face inferior. A toxina botulínica tipo A é uma neurotoxina potente que é produzida pelo organismo anaeróbico Clostridium botulinum e, quando injetada em um músculo, causa interferência no mecanismo do neurotransmissor, produzindo paralisia seletiva e subsequente atrofia muscular³.

Esse efeito de denervação química tem sido traduzido com sucesso, em que baixas doses da toxina botulínica podem ser administradas para contrabalançar os músculos faciais hipercinéticos4.

Hoje, o uso da toxina botulínica no campo da Odontologia se tornou eficaz no tratamento de reabilitações em pacientes com casos de bruxismo e apertamento severos. Porém, não se pode abrir mão dos efeitos colaterais indesejados que podem surgir com o uso da técnica. Esses efeitos colaterais podem simplesmente desaparecer, ou o profissional pode atuar para trazer conforto ao paciente. Apesar de simples solução, o entendimento dessas intercorrências pode auxiliar os profissionais da área de Saúde nos tratamentos dos pacientes.

Referências
1. Lavigne GJ, Khoury S, Abe S, Yamaguchi T, Raphael K. Bruxism physiology and pathology: an overview for clinicians. J Oral Rehabil 2008;35(7):476-94.
2. Attanasio R. Nocturnal bruxism and its clinical management. Dent Clin North Am 1991;35(1):245-52.
3. Fedorowicz Z, van Zuuren EJ, Schoones J. Botulinum toxin for masseter hypertrophy. Cochrane Database Syst Rev 2013;9(9):CD007510.
4. Rohrich RJ, Janis JE, Fagien S, Stuzin JM. The cosmetic use of botulinum toxin. Plast Reconstr Surg 2003;112 (5 suppl):177S-88S.

 

Maria Geovânia Ferreira

Especialista em Prótese Dentária – UFU; Professora nas áreas de toxina botulínica, biomateriais preenchedores e anatomia facial.