O laser de alta potência na clínica odontológica

O laser de alta potência na clínica odontológica

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Meire Maman discute o uso do laser de alta potência nos tecidos moles, denominado também de fotocirurgia ou lasercirurgia.

O emprego da luz na área da Saúde, ciência denominada terapia biofotônica (TB), teve uma evolução expressiva tanto da compreensão dos aspectos físicos e biológicos como da inovação tecnológica dos equipamentos. São diversas as indicações de emprego da TB nas intervenções clínicas e envolve as técnicas de fotobiomodulação, a desinfecção através da terapia fotodinâmica (PDT), o diagnóstico óptico e o uso do laser de alta potência para procedimentos cirúrgicos e estéticos.

Nesta edição, vamos discutir o uso do laser de alta potência nos tecidos moles, ou seja, o que denominamos de fotocirurgia ou lasercirurgia.

A cirurgia a laser recebe posição de destaque na área médica e odontológica, com vantagens em relação à cirurgia tradicional ou por eletrocoagulação1, muito bem estabelecidas na literatura científica e clinicamente.

Os diferenciais do emprego do laser estão relacionados com a possibilidade de realização de cirurgias minimamente invasivas, redução do tempo intraoperatório, precisão da técnica cirúrgica com controle de aquecimento lateral dos tecidos, diminuição de relato de dor e um ótimo efeito coagulativo e hemostático. E todos esses benefícios resultam no menor risco de infecção, reparação tecidual acelerada com ótima qualidade cicatricial e o que é evidente na clínica, o paciente satisfeito com a percepção de conforto pós-operatório2.

Entre os fatores impeditivos da disseminação do uso do laser na rotina no consultório, pode-se citar o alto custo de aquisição e de manutenção do equipamento e também a fragilidade do aparelho devido à complexidade dos sistemas de entrega da luz, como no laser de CO2.

Atualmente, devido à evolução da tecnologia, o advento do uso de diodos como meio ativo tornou os lasers muito mais acessíveis, compactos e altamente específicos na interação luz/estrutura-alvo, permitindo ao cirurgião obter resultados precisos e eficientes.

Resumidamente, a ação do laser de alta potência consiste na emissão de fótons que produzem uma reação térmica nos tecidos. Conforme a quantidade do calor gerado, são obtidos diferentes resultados: a partir de 45°C, produz a desnaturação de proteínas e a coagulação de vasos sanguíneos; em torno de 60°C ocorre a necrose tecidual; aos 100°C temos a vaporização da água intracelular e a carbonização; e aos 300°C acontece a vaporização tecidual2.

Esses efeitos térmicos são controlados por parâmetros dosimétricos, pelo modo de operação (contínuo ou pulsado), pelo modo de irradiação (por contato ou não) e pela absorção dos fótons pela estrutura-alvo. Cada um desses fatores são ajustáveis e permitem a seleção do efeito desejado3.

Essa interação entre os fótons e a estrutura-alvo é precisa a ponto de permitir cirurgias oftálmicas com grande taxa de sucesso.

Na Odontologia, podemos citar vários procedimentos que podem ser realizados com o laser diodo de alta potência, como as frenectomias, a gengivoplastia, a excisão de hiperplasias, a remoção de pigmentação melânica, o tratamento de pericoronarite, a reabertura de implante e a ulectomia. Enfatizando que na lasercirurgia podem ser usadas doses anestésicas reduzidas, com menor risco de infecção e tempo operatório curto, o que pode ser muito vantajoso em pacientes pediátricos ou com a saúde sistêmica comprometida. Existe também a possibilidade de realizar a desinfecção de bolsa periodontal e endodôntica como coadjuvante das terapias tradicionais.

As novas perspectivas para integração do laser de alta potência no cotidiano da clínica odontológica são muito promissoras. A tendência é produzir equipamentos de custo cada vez mais acessíveis, fáceis de operar, com a combinação de diferentes comprimentos de onda simultâneos e agregados com softwares de assistência de parâmetros dosimétricos.

Sem dúvida, o laser de alta potência tem seu campo de atuação em expansão na Odontologia e cabe ao profissional se capacitar para oferecer tratamentos diferenciados e de excelência para os seus pacientes.

Referências

  1. Bozkulak O, Tabakoglu HO, Aksoy A, Kurtkaya O, Sav A, Canbeyli R et al. The 980-nm diode laser for brain surgery: histopathology and recovery period. Lasers Med Sci 2004;19(1):41-7.
  2. Mancini MW, Almeida-Lopes L. Aspectos gerais do laser de diodo cirúrgico – otorrinolaringologia e cabeça e pescoço. Elaborado e editado pelo Nupen – Núcleo de Pesquisa e Ensino de Fototerapia nas Ciências da Saúde. São Carlos, 2015.
  3. Niemz MH. Laser-tissue interactions – fundamentals an applications. 3rd enlarged edition. Springer Berlin Heidelberg, New York, 2007.