Patologias da pele: o que o cirurgião-dentista precisa saber?

Patologias da pele: o que o cirurgião-dentista precisa saber?

Compartilhar

Karine Piñera destaca dois grupos de patologias relevantes para a Harmonização Orofacial: as doenças autoimunes e as neoplasias malignas.


Conforme explicado anteriormente, a histopatologia da mucosa bucal inclui células comuns à epiderme e à derme, e a estruturação morfológica de ambas guarda estreita semelhança. Essa origem embriológica e histológica implica que um grande número de manifestações da pele esteja associado às lesões bucais, e vice-versa.

Nesse hall de doenças mucocutâneas, quero destacar dois grupos de patologias relevantes para a Harmonização Orofacial: 1) as doenças autoimunes; e 2) as neoplasias malignas.

De forma genérica, as doenças autoimunes que afetam o revestimento epitelial (seja pele ou mucosa) apresentam lesões descamativas, erosionadas, com hiperqueratinização ou atrofia e, normalmente, comportam-se de maneira intermitente, com episódios de piora alternados com remissão.

O cirurgião-dentista deve estar atento, no momento do diagnóstico das patologias, a esses sinais clínicos, tanto na epiderme como na mucosa bucal.

Na epiderme, a lesão presente necessita de diagnóstico e tratamento adequado previamente a qualquer tratamento estético. Na mucosa bucal, a lesão autoimune pode indicar um perfil imunológico que eventualmente faça o paciente reagir de maneira inesperada a algum produto utilizado, no fenômeno denominado reação cruzada.

Como exemplo, pode-se citar o líquen plano (erosivo ou não), o lúpus (e suas várias manifestações) e a esclerodermia localizada. Os dois primeiros apresentam lesões tanto em pele quanto na mucosa bucal; os três diagnósticos, quando afetam a pele, acometem frequentemente a face, com predomínio em mulheres e faixa etária ao redor dos 40 anos de idade.

O segundo grupo, das neoplasias malignas, envolve a seriedade do diagnóstico de câncer. Nesse aspecto, a Odontologia, de maneira geral, e a Harmonização Orofacial, em particular, podem contribuir muito para o diagnóstico precoce das doenças e a redução das estatísticas alarmantes do Brasil.

Destacam-se três tipos de neoplasias malignas que acometem a pele e/ou a mucosa bucal: o carcinoma basocelular (afetando apenas a pele), o carcinoma epidermoide e o melanoma (que ocorrem tanto na pele quanto na mucosa bucal).

As lesões do tipo basocelular apresentam-se tipicamente na face, com maior incidência em base de nariz e região malar, particularmente em pessoas acima dos 50/60 anos de idade, com pele clara e histórico de exposição crônica ao sol. São lesões ulceradas, de crescimento relativamente lento. É comum o paciente relatar eventos ocasionais de eritema, formação de crosta e sintomatologia do tipo coceira. Por ser uma lesão de crescimento lento, há demora considerável na infiltração local e também na formação de metástases, sendo o diagnóstico precoce associado à cura completa.

Já o carcinoma epidermoide e, especialmente, o melanoma apresentam comportamento clínico mais agressivo devido ao crescimento rápido.

No caso do carcinoma epidermoide, é frequente a lesão apresentar-se no lábio inferior sob a forma de placa branca ou pequena área ulcerada. Essa lesão pode ainda ser precedida pela queilite actínica e, nesse caso, o lábio apresenta um aspecto isquêmico, envelhecido e “em platô”, aspecto importante a ser avaliado em caso de preenchimento labial.

Já nos melanomas, observa-se tipicamente uma mancha escura irregular na pele (sendo a lesão bucal mais rara). Falta de homogeneidade na coloração, bem como limites indefinidos, são aspectos que devem preocupar, tanto na epiderme quanto na mucosa bucal.

Há muito mais a ser dito, tanto sobre as doenças autoimunes quanto sobre as neoplasias malignas e mais uma série de alterações patológicas que, a partir do advento da Harmonização Orofacial, devem estar no escopo do conhecimento do clínico que deseja atuar com segurança, aliando estética e saúde.

Confira todas as edições da coluna “Sob o microscópio”, de Karine Piñeda.

Karine Pineda

Karine Piñera
Doutora em Patologia – Medicina/USP; Especialista e Mestra em Patologia Bucal – FOB/USP; Especialista em Radiologia Odontológica – APCD/SP; Habilitação em Odontologia Hospitalar – Crosp.
Orcid: 0000-0002-8652-8126.