Como funciona a ação antimicrobiana da PDT
(Imagem: Shutterstock)

Como funciona a ação antimicrobiana da PDT

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Meire Maman conta que a PDT desponta como uma poderosa alternativa no arsenal terapêutico da nossa clínica.


Na primeira edição da revista FACE, foram expostos os diversos campos de atuação das terapias biofotônicas. Nesta edição, vamos conversar sobre a ação antimicrobiana da terapia fotodinâmica (PDT – photodynamic therapy).

Em 1900, Oscar Raab descobriu, acidentalmente, que a associação de luz com o corante acridina era altamente letal para os protozoários Paramecium caudatum. Em 1903, Hermann von Tappeiner denominou esse efeito da luz de “efeito fotodinâmico”². Embora a PDT tenha sido descoberta no campo da microbiologia há mais de 100 anos, sua maior expressão foi na área da Oncologia, com aprovação regulamentada para o tratamento de vários tipos de câncer².

Recentemente, a PDT antimicrobiana tem sido foco de interesse de pesquisas e aplicações clínicas para o tratamento e o controle de diversos tipos de infecções localizadas. Esse ressurgimento do interesse do poder antimicrobiano foi, em parte, motivado pelo alarmante aumento da resistência às drogas entre bactérias e outros patógenos³.

Basicamente, a dinâmica da PDT consiste na aplicação de um agente fotossensível (AF) que, ao ser irradiado por uma luz monocromática, normalmente emitida por um laser, excita as moléculas de oxigênio presentes no tecido a produzirem espécies citotóxicas (espécies reativas de oxigênio – ERO) que levam à destruição dos microrganismos4.

Os agentes fotossensíveis devem apresentar algumas características fundamentais, como alta afinidade pelo microrganismo-alvo, não ser tóxico aos tecidos sadios, ter grande absorção da luz e apresentar fácil eliminação. Essas propriedades determinam as vantagens terapêuticas da PDT, como ser fulminante para os microrganismos, colaborar para a preservação dos tecidos sãos, não ter efeito acumulativo e, principalmente, não sensibilizar os microrganismos a desenvolver resistência ao medicamento, como nas terapias tradicionais4.

Muito interessante é o amplo espectro de atuação da PDT antimicrobiana, que compreende a erradicação de vírus, fungos e bactérias4-5.

Entendendo esses conceitos, é fácil vislumbrar as inúmeras possibilidades de emprego da PDT na clínica médica e odontológica. A literatura científica é vasta em artigos que demonstram a alta efetividade dessa técnica para o tratamento de herpes; de infecções fúngicas por Cândida albicans, presente na quelite angular ou estomatites; como adjuvante nos tratamentos periodontais; para controle da evolução de cáries e nas intervenções endodônticas infectadas; nos casos de peri-implantites; no manejo da halitose e no controle de infecções em pacientes durante a quimioterapia e a radioterapia ou que apresentem necrose óssea devido ao uso de bifosfonatos. Quando pensamos na estética facial, a PDT é indicada para o tratamento da acne, de rosácea, de foliculites, de psoríase, de micoses e nas complicações pós-procedimentos estéticos que apresentem contaminação.

A PDT antimicrobiana tem evoluído e apresentado resultados cada vez mais promissores com o desenvolvimento de novos agentes fotossensíveis mais “inteligentes”, com maior especificidade e maior penetração nas membranas celulares, resultando na eliminação mais eficiente dos microrganismos.

É muito positiva a perspectiva de tratar infecções sem o emprego de drogas que podem induzir à resistência bacteriana. Mas, também, devemos ressaltar que muitas vezes o medicamento não tem acesso ao biofilme, pois esse encontra-se no meio externo. Nesses casos, a PDT antimicrobiana aparece como uma terapia coadjuvante que eleva o prognóstico de cura.

Sem dúvida, a PDT desponta como uma poderosa alternativa no arsenal terapêutico da nossa clínica.

Referências
1. Raab OZ. Über die wirking fl uoreszierender staff e auf infusorien. Z Biol 1900;39:524-46.
2. Dougherty TJ. An update on photodynamic therapy applications. J Clin Laser Med Surg 2002;20(1):3-7.
3. World Health Organization. Antimicrobial resistance: global report on surveillance. World Health Organization, 2014.
4. Castano AP, Demidova TN, Hamblin MR. Mechanism in photodynamic therapy: part one-photosensitizers, photochemistry and cellular localization. Photodiagnosis Photodyn Ther 2004;1(4):279-93.
5. Kharkwal GB, Sharma SK, Huang YY, Dai T, Hamblin MR. Photodynamic therapy for infections: clinical applications. Lasers Surg Med 2011;43(7):755-67.‘]

 

Meire Maman
Mestra pelo Programa de Pós-graduação em Cirurgia Plástica – Unifesp; Especialista em Periodontia – Abeno/SP, Professora colaboradora – Nupen; Fundadora da Fotobio – Cursos livres sobre Terapias Biofotônicas.