Estética versus função: qual o real papel dos enxertos gengivais ao redor de dentes e implantes?

Estética versus função: qual o real papel dos enxertos gengivais ao redor de dentes e implantes?

Compartilhar


O termo “estético” tem por definição o estudo da natureza, da beleza e dos fundamentos da arte; por outro lado, o termo “função” tem por significado uma obrigação a cumprir ou um papel a desempenhar. Estética ou função, eis a questão? Esta é uma pergunta que muitos colegas nos fazem durante cursos e atividades educacionais que participamos, principalmente sobre a indicação dos diferentes tipos de enxertos gengivais ao redor de dentes ou implantes. Será que o enxerto gengival, seja ele gengival livre ou enxerto subepitelial, teria apenas a função estética na correção de defeitos de volume ou perda tecidual, ou também teria algum objetivo funcional?

Nesse caso específico, prefiro sempre responder com outras perguntas: Por que estética e função não podem ser obtidas simultaneamente durante um procedimento odontológico? Desde quando o termo “estética” pode depreciar o objetivo funcional de um procedimento? Vale destacar aqui, que isso não é somente válido para os enxertos gengivais, mas, muitas vezes, para diversos procedimentos odontológicos, reabilitadores ou não. Lembre-se que um dos objetivos da Odontologia é devolver função e inserção social ao indivíduo.

Mas, voltando ao contexto do tecido gengival ao redor de dentes e implantes, não nos resta dúvida de que uma boa qualidade de tecido gengival ao redor das reabilitações implantossuportadas tem um grande impacto na estética da prótese, contribuindo com um adequado perfil de emergência protético e proporcionando a naturalidade necessária à reabilitação.

Não nos resta dúvida também que o reposicionamento coronário do retalho associado a um enxerto subepitelial tem a capacidade de diminuir o nível da recessão gengival e, consequentemente, a estética dental. Mas o que devemos nos perguntar é: além desses resultados clínicos e estéticos, quais seriam os outros objetivos que tais procedimentos poderiam ter e que poderiam contribuir para o nosso paciente?

Em 2018, durante o “workshop” mundial sobre as classificações das doenças periodontais e peri-implantares, diversos pesquisadores mundiais confirmaram os benefícios funcionais de uma boa margem de tecido queratinizado ao redor de implantes para manutenção da saúde peri-implantar (em tecidos moles e tecido ósseo) e para o conforto do paciente, contribuindo, dessa forma, para a longevidade da reabilitação. Estudos atuais vêm demonstrando que a associação do enxerto subepitelial durante os implantes imediatos em áreas estéticas tem levado à melhor manutenção do osso peri-implantar e menor nível de recessão da margem peri-implantar ao longo do tempo.

Quando falamos de dentes, os enxertos gengivais podem contribuir para o aumento do volume tecidual, o que levaria a uma alteração do biótipo periodontal, contribuindo para sua estabilidade. Também, auxiliam no tratamento das lesões cervicais não cariosas, algo muito comum no nosso dia a dia, diminuindo a hipersensibilidade dentinária.

Estética versus função, eis a questão. A melhor resposta para essa pergunta é questionar e refletir desde quando elas não podem caminhar juntas e, dessa forma, alcançar ambos os objetivos simultaneamente.

Marcelo Faveri

Especialista e mestre em Periodontia; especialista em Implantodontia; Doutor em Microbiologia e Pós-Doutor – Instituto Forsyth, Cambridge/EUA.