Biologia como guia: procedimento cirúrgico para sorriso gengival

Biologia como guia: procedimento cirúrgico para sorriso gengival

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Estética do sorriso: um dos principais aspectos que podem causar desarmonia e desconforto para o paciente é o sorriso gengival.


Atualmente, a busca pela estética e melhor harmonia do sorriso vem aumentando cada vez mais nos consultórios odontológicos. No que se refere à estética do sorriso, um dos principais aspectos que podem causar uma desarmonia e/ou desconforto para o paciente é a exposição excessiva de tecido gengival durante o ato de sorrir, que é conhecido como sorriso gengival.

Existem algumas controvérsias em relação ao quanto de exposição gengival pode ser considerada inadequada. Exposições entre 0 mm e 2,3 mm foram descritas como aceitáveis para leigos e profissionais. Dessa forma, exposições acima desses valores podem hoje em dia serem consideradas como características de sorriso gengival.

O tratamento dessa condição é baseado em um aumento de coroa clínica, sendo esse um dos procedimentos mais comuns dentro da clínica de Periodontia. Um relatório recente da Academia Americana de Periodontia relatou que aproximadamente 10% a 20% dos procedimentos cirúrgicos periodontais referem-se a intervenções para correção do sorriso gengival e/ou aumento de coroa clínica. O aumento de coroa clínica pode ser realizado através de duas técnicas, com retalho aberto ou retalho fechado (flapless).

Hoje em dia, a Odontologia Digital tem contribuído muito para os diversos procedimentos odontológicos, e não seria diferente dentro da Periodontia, sendo mais específico no auxílio dos procedimentos de gengivoplastia e/ou aumento de coroa clínica. Utilizando arquivos tomográficos e escaneamentos intrabucais, é possível confeccionar guias cirúrgicos personalizados para os pacientes, com a função de auxiliar e orientar o ponto das incisões das margens gengivais, bem como a extensão da osteotomia durante os procedimentos de aumento de coroa clínica.

Com certeza, é um avanço da tecnologia que vem nos ajudando muito e tem sua função, quando utilizado dentro dos padrões técnicos e biológicos. Entretanto, alguns colegas descrevem que o uso de guias cirúrgicos seria útil para profissionais com pouca experiência clínica, auxiliando-os na execução da técnica cirúrgica, aumentando assim sua previsibilidade.

Entretanto, será mesmo que esta é a principal função desses guias? O que devemos entender é que os guias cirúrgicos, por mais úteis que possam ser, não podem substituir algo fundamental em qualquer procedimento odontológico, a biologia.

Lembre-se de que não podemos deixar um guia determinar a dimensão dos tecidos supracrestais (espaço biológico) de nosso paciente. Não podemos deixar este guia determinar qual o contorno gengival que devemos dar para nosso paciente, conforme seu biotipo periodontal e características individuais. Visto isso, será mesmo que um guia, que pode “engessar” meu procedimento cirúrgico, é indicado para profissionais com pouca experiência clínica?

Claro que os guias cirúrgicos para os procedimentos de gengivoplastia têm seus pontos positivos e devemos saber utilizá-los, mas não são fundamentais ou imprescindíveis, a não ser em casos de reabilitações protéticas futuras. Mesmo porque, até o presente momento, não existe melhor guia cirúrgico para esses procedimentos do que a biologia.

Com certeza, experiência técnica e o conhecimento biológico, associados ou não ao guia, são os ingredientes ideais para alcançar a previsibilidade desejada e o sucesso clínico.

Confira todas as edições da coluna “Estética do periodonto e peri-implantar”, de Marcelo Faveri.

 

Marcelo Faveri


Marcelo Faveri
Especialista e mestre em Periodontia; Especialista em Implantodontia; Doutor em Microbiologia e Pós-doutor – Instituto Forsyth, Cambridge/EUA.
Orcid: 0000-0002-9830-1391.