Desafios da cimentação e aplicação de resinas

Desafios da cimentação e aplicação de resinas

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De suma importância na Odontologia Estética e a Funcional, descubra alguns desafios da cimentação e aplicação de resinas.

Quando o assunto é a reintegração do sorriso à face, imediatamente vêm à mente as possibilidades restauradoras que dispomos na prática odontológica. Há muitas dúvidas sobre o processo de cimentação adesiva – e não é para pouco, pois são quase sete mil combinações possíveis (FIGURA 1), sendo que muitas não estão indicadas. Aqui serão apresentadas algumas estratégias de compreensão para simplificar o entendimento ou, ao menos, reduzir a quantidade de dúvidas a respeito do processo de cimentação e aplicação de cerâmica.

1. O primeiro passo é procurar compreender o substrato sobre o qual será aderido e compreender as necessidades de cada um. Por isso, é fundamental o planejamento prévio do caso.

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2. Pode parecer chato ou enfadonho, mas saber a diferença básica entre fases amorfa e cristalina é mais simples do que se imagina, e é crucial para compreender a seleção do material restaurador e o processo de cimentação adesiva (FIGURA 2).

a) Componente amorfo: a estrutura atômica está arranjada de maneira aleatória, sem forma (“a”: sem; “morfo”: forma), sem organização. De maneira simplista, as cerâmicas amorfas possuem baixa resistência mecânica, mas excelentes características estéticas e são solubilizadas pelo ácido fluorídrico (FIGURA 3).

b) Componente cristalino: possui estrutura atômica perfeitamente arranjada, alta resistência mecânica, baixa capacidade de transmissão de luz e não é solubilizada pelo ácido fluorídrico.

3. Após compreender as diferenças, fica mais fácil entender os três grandes grupos cerâmicos existentes para aplicação em Odontologia. Pode surgir dúvida em relação aos processos de manufatura (se a cerâmica é injetada, fresada, aplicada sobre refratários etc.), mas isto é o de menos no entendimento básico do processo de adesão. Apesar de estudos in vitro apresentarem possibilidades de pequenas variações em função do processo de manufatura (em termos de tempo de aplicação de um ou outro componente etc.), o caminho para a correta seleção do protocolo de cimentação já está bem adiantado. Os três grandes grupos podem ser representados conforme ilustra a FIGURA 4:

a) Cerâmicas vítreas: aquelas com baixo conteúdo de cristais e que apresentam excelente capacidade de transmissão de luz (por consequência, também possuem baixa capacidade de mascaramento de substrato). Podem ser condicionadas com ácido fluorídrico e silanizadas. Assim, devido às características de alta capacidade de adesão e transmissão de luz, opta-se pelo uso de agentes de cimentação totalmente fotoativáveis, seja o cimento do tipo veneer, a resina composta modificada termicamente para ter sua viscosidade reduzida ou, como última opção, a resina do tipo flow (que normalmente contrai muito).

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b) Vidros reforçados: possuem uma matriz vítrea amorfa, sobre a qual é adicionada uma quantidade razoável de cristais. Assim, dependendo do tipo de cristal incorporado, poderá apresentar variações em termos de translucidez, resistência etc. – porém, dentro de uma faixa na qual é possível realizar o condicionamento com ácido fluorídrico. Assim, este tipo de cerâmica pode ser classificado como um grande “coringa”, pois, além da possibilidade de adesão, apresenta características óticas satisfatórias. Será com base no grau de opacidade/espessura desta cerâmica que o profissional selecionará o agente de cimentação. Em casos com até 1,5 mm de espessura e que a passagem de luz é possível, recomenda-se o uso de materiais ativados exclusivamente pela luz. Naqueles de maior opacidade/ espessura, deve-se optar por agentes de cimentação do tipo dual (mas que não sejam autoadesivos, autocondicionantes etc.).

c) Cerâmicas policristalinas: formadas por cristais em quase sua totalidade, sendo as cerâmicas à base de zircônia o grupo mais representativo atualmente. Se por um lado esta categoria é altamente resistente em termos de propriedades mecânicas, por outro não é passível de condicionamento por ácido fluorídrico. Além disso, sua alta opacidade faz com que o agente cimentante seja de ativação química (com baixa disponibilidade e cada vez mais em desuso) ou dual. Desta forma, o profissional deverá considerar o uso de agentes capazes de promover adesão química a óxidos metálicos, seja por um modificador de superfície à base de monômeros fosfatados (os primers de zircônia) seguido de um cimento resinoso dual tradicional ou pelo uso de cimentos autoadesivos que possuem este mesmo tipo de agente fosfatado em sua composição.

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Para facilitar o entendimento, abaixo, um quadro simplificado mostra as opções disponíveis para cimentação adesiva para preparos realizados exclusivamente sobre o esmalte dental (FIGURA 5). Na próxima edição, serão exploradas as possibilidades de cimentação de peças protéticas ao substrato dentinário.