Anti-aging e pró-aging: modular envelhecimento é decisão compartilhada

Anti-aging e pró-aging: modular envelhecimento é decisão compartilhada

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Roger Kirschner debate as novas terapias anti-aging e pró-aging, que atuam na redução dos efeitos do envelhecimento.

O envelhecimento é uma condição natural, contínua e inevitável, que afeta todos os seres vivos, em diferentes tempos e velocidades, a depender das interações bioquímicas, celulares e teciduais que acontecem em resposta ao meio ambiente e à programação genética de cada um.

No entanto, com o avanço das pesquisas nas mais diversas áreas da Saúde, tornou-se possível amenizar as sequelas desse processo implacável, reduzindo sua velocidade e a severidade da decadência funcional e estética que acomete indistintamente os seres humanos. Nossos avós certamente envelheceram de maneira mais intensa, e, aos 40 ou 50 anos, após anos de exposição solar massiva, desconhecimento sobre a importância da nutrição ou da atividade física regular, já apresentavam sinais e sintomas característicos do envelhecimento.

Indivíduos com 70 anos, em tempos passados, eram considerados muito idosos – e apresentavam aspectos físicos que validavam uma condição decadente.

Muita coisa mudou nos últimos anos. O acesso à informação, as inúmeras chances de prevenir, de diagnosticar e de tratar condições antes desafiadoras, moldaram uma realidade totalmente diferente. Hoje, além do aumento da expectativa de vida, mudamos a percepção sobre a idade na qual a velhice chega. Muitas pessoas de 60 ou 70 anos exibem invejável vivacidade e autoestima, fruto de decisões diárias pró-aging, algo totalmente improvável em gerações anteriores.

A sociedade em que vivemos cultua o belo e a estética como sinônimos de ascensão, de saúde, de sucesso e de prosperidade, ao mesmo tempo em que julgam a velhice como sinônimo de decadência e de fracasso. A maioria dos pacientes que nos procuram deseja estar no grupo de pessoas “jovens”, independentemente da idade que possuem. Idade tornou-se algo irrelevante nos dias de hoje, porque já é possível controlar, em certos pontos de vista, os efeitos do envelhecimento.

A regra biológica, para a maioria dos indivíduos, é que, a partir dos 40 anos, existe uma significativa alteração da fisiologia hormonal. Mas Biologia nunca foi como Matemática. Existe uma flexibilidade nas regras biológicas e é exatamente nessas brechas que podemos trabalhar, de forma interdisciplinar, para a real melhora da saúde global, da autoestima e da estética do indivíduo que nos procura como paciente.

Cada pessoa é única e demanda a avaliação individual de necessidades e deficiências. O primeiro passo é identificar esse cliente que nos procura, começando por caracterizar seu estilo de vida (intrínseco e extrínseco) e, depois, esclarecer os objetivos possíveis de serem alcançados, independentemente das suas expectativas irreais.

Ainda que seu paciente não possua nenhuma doença sistêmica ou local, é muito importante investigar se ele se hidrata adequadamente, se cuida da pele com filtros e bloqueadores solares, se executa algum protocolo de limpeza diária da face, se dedica alguma disciplina à atividade física regular, se possui bons hábitos alimentares, se gerencia adequadamente os níveis de estresse emocional, se fuma (hábito ou vício) ou se possui hábitos parafuncionais.

Todos esses aspectos são fundamentais para determinar prevenção, diagnóstico e tratamento.

As novas terapias anti-aging e pró-aging atuam na redução dos efeitos do envelhecimento, e seus objetivos abrangem:

  1. preservar o tamanho dos telômeros – fileiras de proteínas que protegem o DNA e que vão ficando mais curtas com o passar do tempo, tornando-se um importante biomarcador para o envelhecimento;
  2. manter a atividade mitocondrial e o número de organelas citoplasmáticas das células – durante o envelhecimento, as células perdem organelas e se “aposentam”, deixando de executar adequadamente as funções que anteriormente desempenhavam;
  3. estimular os fibroblastos e a neocolagênese – o fibroblasto envelhecido tende a se tornar um fibrócito e para de sintetizar colágeno;
  4. diminuir os radicais livres – essas moléculas instáveis produzem reações indesejáveis e degeneram o correto funcionamento tecidual;
  5. reduzir a glicação de proteínas – uma reação na qual carboidratos, como a glicose, ligam-se permanentemente às proteínas, acelerando o envelhecimento.

Especial atenção à nutrição é fundamental, pois existem alimentos que atuam na expressão gênica e modulam alguns aspectos do envelhecimento, como: ômega 3, polifenóis (resveratrol), óleo de linhaça, óleo de macadâmia, chá verde e outros alimentos antioxidantes1. Pensando em hidratação, precisamos ingerir em média de dois a três litros de água por dia, para mantermos o manto hidrolipídico da pele em equilíbrio e, com isso, a maciez, a suavidade e a flexibilidade em harmonia com o sistema tegumentar.

O viço da pele depende muito da hidratação e da biodisponibilidade de nutrientes no organismo do nosso paciente. A partir dos 40 anos, com uma pele já considerada madura, é necessário intensificar os nutrientes fundamentais ao seu correto funcionamento: derivados de zinco, coenzima Q10, vitamina E, vitamina C, magnésio, cobre, manganês, ômegas 3-6-9 e selênio.

A intradermoterapia com diferentes mesclas, as substâncias bioestimuladoras, os fios lisos indutores de colágeno (PDO), a injeção de plasma gel e outros produtos autólogos derivados do sangue são exemplos da linha de terapias e produtos possíveis para devolver função e estética aos tecidos orofaciais, fortificando a trama das fibras de colágeno e elastina, mantendo a hidratação do manto hidrolipídico da pele e preservando a homogeneidade da matriz extracelular, bem como o correto funcionamento em níveis celulares2.

A jovialidade é uma decisão diária de cuidado consigo mesmo. O nosso paciente deve estar ciente disso. As possibilidades de sucesso devem ter responsabilidade dividida com o paciente, independentemente do procedimento realizado, visando à harmonia orofacial. Se o indivíduo não for capaz de assumir responsabilidade pelo cuidado consigo mesmo, de dentro para fora e de fora para dentro, as chances de sucesso permanecem reduzidas. Cabe a nós compartilhar conhecimento com o nosso paciente, de modo que ele seja o principal autor das terapias anti-aging e pró-aging.

Referências

  1. Cozzolino SMF. Biodisponibilidade de nutrientes. Manole, 2005.
  2. Halliwell B, Rafter J, Jenner A. Health promotion by flavonoids, tocopherols, tocotrienols, and other phenols: direct or indirect effects? Antioxidant or not? Am J Clin Nutr 2005;81(1 suppl):268S-76S.