A evolução do protocolo de utilização da hialuronidase

A evolução do protocolo de utilização da hialuronidase

Compartilhar

A utilização da hialuronidase é largamente difundida e pode causar complicações. Marcelo Germani discute a evolução dos protocolos de uso.

Hoje, os injetáveis à base de ácido hialurônico representam a principal opção para a reestruturação da face. A aplicação desses produtos está associada a diversas reações adversas locais, como vermelhidão, inchaço, hematomas e sensibilidades, que geralmente desaparecem e regridem em torno de duas semanas.

Eventos mais raros, porém muito mais graves, estão relacionados à oclusão vascular, que pode levar à necrose de pele e, consequentemente, perda tecidual e problemas visuais, culminando na perda total da capacidade de enxergar. Infelizmente, esses eventos são subnotificados e crescem na mesma proporção que os procedimentos minimamente invasivos. O manejo desses eventos adversos é realizado pela aplicação da hialuronidase – enzima que degrada o ácido hialurônico¹.

Atualmente, a hialuronidase está presente em todos os protocolos de manejo de eventos adversos relacionados aos preenchimentos à base de ácido hialurônico, seja como terapia principal ou coadjuvante. Também como principal aplicação em casos de risco ou presença de necrose, amaurose e remoção parcial ou total do produto por motivos estéticos, e como protocolo adicional em nódulos tardios inflamatórios ou não inflamatórios².

Leia também: Segurança acima da efetividade: medidas preventivas na HOF

Essa enzima age despolimerizando o ácido hialurônico, promovendo a degradação por hidrólise dos dissacarídeos formadores do polímero³. Estudos in vitro e in vivo mostram o nível de degradação de diversas marcas de produtos frente a diferentes tipos de hialuronidase e elucidam o mecanismo de ação da enzima. Esses estudos são de importância para o entendimento do nível de degradação do ácido hialurônico e para orientar na escolha por produtos mais degradáveis, principalmente em áreas de maior risco4-6. Apesar de ser o principal agente indicado para degradar o ácido hialurônico, muitos profissionais ainda insistem em utilizar protocolos sem evidências comprovadas em substituição à enzima. Mais agravante é a falta do hábito de ter essa enzima em seus consultórios, fato descrito em uma pesquisa realizada em 2020 e que, com certeza, pode ser exportada para outros lugares do mundo7.

Diferentes protocolos para diluição ou preparo da hialuronidase foram descritos ao longo dos anos. A inexperiência dos profissionais frente à utilização da enzima no começo do século e o aumento exponencial do número de produtos à base de ácido hialurônico no mercado foram norteando cada vez mais a aplicação de grandes doses da enzima, principalmente em obstruções vasculares8. A evolução do protocolo (altas doses de hialuronidase), sobretudo voltado para as obstruções vasculares, está altamente associada à garantia do sucesso, até porque eventos alérgicos na administração da hialuronidase são raros, não sendo portanto comprometedores ao paciente9. A seguir, uma sugestão baseada na literatura mais atual para utilização e diluição da enzima hialuronidase. (FIGURAS 1 A 3).

Referências

1. Jones DH, Fitzgerald R, Cox SE, Butterwick K, Murad MH, Humphrey S et al. Preventing and treating adverse events of injectable fi llers: evidence-based recommendations from the American Society for Dermatologic Surgery Multidisciplinary Task Force. Dermatol Surg 2021;47(2):214-26.
2. Artzi O, Cohen JL, Dover JS, Suwanchinda A, Pavicic T, Landau M et al. Delayed infl ammatory reactions to hyaluronic acid fi llers: a literature review and proposed treatment algorithm. Clin Cosmet Investig Dermatol 2020;13:371-8 (DOI: 10.2147/CCID.S247171).
3. Buhren BA, Schrumpf H, Hoff NP, Bölke E, Hilton S, Gerber PA. Hyaluronidase: from clinical applications to molecular and cellular mechanisms. Eur J Med Res 2016;21:5 (DOI: 10.1186/s40001- 016-0201-5).
4. Casabona G, Marchese PB, Montes JR, Hornfeldt CS. Durability, behavior, and tolerability of 5 hyaluronidase products. Dermatol Surg 2018;44(suppl.1):42-50.
5. Rao V, Chi S, Woodward J. Reversing facial fi llers: interactions between hyaluronidase and commercially available hyaluronic-acid based fi llers. J Drugs Dermatol 2014;13(9):1053-6.
6. Ferraz RM, Sandkvist U, Lundgren B. Degradation of hylauronic acid fi llers using hyaluronidase in an in vivo model. J Drugs Dermatol 2018;17(5):548-53.
7. Shalmon D, Cohen JL, Landau M, Verner I, Sprecher E, Artzi O. Management patterns of delayed infl ammatory reactions to hyaluronic acid dermal fi llers: an online survey in Israel. Clin Cosmet Investig Dermatol 2020;13:345-9 (DOI: 10.2147/CCID.S247315.
8. DeLorenzi C. New high dose pulsed hyaluronidase protocol for hyaluronic acid fi ller vascular adverse events. Aesthet Surg J 2017;37(7):814-25.
9. Dunn AL, Heavner JE, Racz G, Day M. Hyaluronidase: a review of approved formulations, indications and off -label use in chronic pain management. Expert Opin Biol Ther 2010;10(1):127-31.