Em editorial, Maristela Lobo destaca que é preciso buscar, selecionar e aprofundar a informação visando o crescimento consistente e duradouro.
Há aproximadamente 30 anos, quando queríamos pesquisar algum assunto, recorríamos às enciclopédias, como a Barsa, que ficava na casa dos nossos avós. Nossos filhos e netos não sabem o que isso significa. Quando querem saber sobre algo, buscam no Google. Definitivamente, somos inundados por uma quantidade imensa de informações disponíveis na internet. É claro que esse fato traz inúmeros benefícios, principalmente para quem sabe utilizar adequadamente as ferramentas de busca e sabe como filtrar os resultados, classificando as informações.
Entretanto, quantidade não significa qualidade – e disso já sabemos há bastante tempo. É preciso buscar, selecionar (checando a veracidade) e aprofundar. Quando nos aprofundamos em determinado assunto, adquirimos conhecimento, o que requer tempo, avaliação, teste, análise, experimentação, repetição e validação. Acessar o conhecimento não é rápido nem fácil, porque requer análise crítica e pensamento customizado. Sem dúvida, é o que a nossa profissão precisa – que apliquemos o nosso vasto conhecimento (multidisciplinar) na prevenção e/ou solução dos problemas orofaciais dos nossos clientes, objetivando saúde, função, estética e bem-estar ao indivíduo.
Atuando como professora de pós-graduação há pelo menos 12 anos, vejo os alunos muito mais interessados em técnicas, e bastante entediados quando são direcionados à aquisição do conhecimento – leitura de artigos, escrita de monografias e TCCs, pesquisa em plataformas como PubMed ou ScienceDirect, seminários de discussão de casos, aulas conceituais e sobre filosofias de tratamento. É uma questão educacional que devemos atentar e cuidar. Mudar o foco de valor do aluno – e do leitor – para o conceito, e não para as técnicas, ferramentas e/ou produtos. Não estou dizendo que não são importantes. Estou dizendo que são menos importantes na escala do conhecimento. Estou dizendo que técnica se aprimora e pode ser “efêmera”, enquanto o conhecimento sedimentado é perene e se adquire com intensa dedicação e com um filtro exigente sobre as informações que existem por aí.
Os melhores artigos, livros e professores são aqueles que nos ensinam o “porquê” das decisões clínicas e técnicas. Alguns dos melhores dentistas que eu conheço explicam os caminhos do tratamento da maneira mais didática possível, transferindo conhecimento de forma generosa para o maior entendimento e benefício do paciente – afinal, a responsabilidade é compartilhada. Nas minhas aulas, percebo a gratidão dos alunos quando entendem o real sentido das minhas decisões clínicas, baseadas em anatomia, biologia, bioquímica e outros alicerces básicos à nossa conduta. A gratidão deles é uma grande recompensa!
Recentemente, em um congresso, o Dr. Christian Coachman perguntou ao prof. Bill Arnett – autor de inúmeros artigos e livros sobre análise facial e verdadeira autoridade na Odontologia mundial – o que ele acreditava ter acontecido para que ele tivesse sucesso na profissão. E ele foi claro ao dizer que praticou a observação atenta e humilde dos seus próprios resultados clínicos ao longo dos anos, buscando evoluir dia a dia, identificando lacunas de conhecimento e pontos a serem melhorados, e aprimorando técnicas. Essa postura representa a superação de si mesmo, através da humildade em conhecer os próprios resultados e ser crítico em relação a eles. Reconhecer que nunca saberemos tudo, mas que estaremos sempre na busca por saber mais e melhor. É olhar para a própria trajetória profissional, muito mais que para a de outros. O foco no conhecimento promove crescimento consistente e duradouro.
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Maristela Lobo
Editora científica da revista FACE.