Estética branca: o estudo clínico e o contraponto acadêmico
(Imagem: Shutterstock)

Estética branca: o estudo clínico e o contraponto acadêmico

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Quando era aluno de graduação, ouvia um de meus professores dizer que as três grandes eras da Odontologia Restauradora estavam associadas a nomes que iniciavam com a letra “B”. Black marcou seu nome na era do amálgama dental; Buonocore e Bowen transformaram a Odontologia com a tecnologia adesiva; e mais recentemente, Brånemark estabeleceu um novo capítulo em nossa história com as próteses dentárias suportadas por implantes.

Assim, pode-se considerar que os tratamentos odontológicos restauradores evoluíram ao longo dos anos, da mera reposição de estrutura dental perdida em função do processo da doença cárie, para reabilitações funcionais, biológicas e estéticas. Infelizmente, por uma série de razões que não caberiam em um texto editorial, os aspectos “minimamente invasivos” viabilizados pela evolução tecnológica têm sido distorcidos e aplicados como forma de justificar uma série de tratamentos desnecessários.

Outra questão extremamente pertinente é a de que grande parte da evolução dos tratamentos reabilitadores, e também de “cosmética” dental, está associada ao desenvolvimento dos materiais odontológicos. Entretanto, é imprescindível esclarecer que o sucesso de tais tratamentos é primariamente dependente de aspectos comportamentais, tanto do paciente quanto do clínico responsável pelo caso. Além disso, todo material (todo mesmo!) possui uma série de limitações e pode falhar mesmo quanto o caso é bem planejado, executado por profissionais capacitados e monitorado ao longo dos anos.

Dessa forma, o que se pode esperar daqueles tratamentos em que um planejamento mínimo é negligenciado ou um acompanhamento detalhado é subvalorizado? E daqueles tratamentos executados por clínicos com pouco ou nenhum embasamento teórico?

Com base em dados recentes, é possível considerar que a maioria dos cirurgiões-dentistas tem o hábito de leitura voltado para o aprendizado/aprimoramento em Odontologia¹. Diante de tantas opções, revela-se frequente o interesse pelos estudos clínicos e, muito frequentemente, relatos de casos, os quais são extremamente agradáveis para o aprendizado por parte daqueles que lidam de forma direta e quase exclusiva com atendimento clínico. Entretanto, a qualidade de muitos textos tem sido extremamente questionada por profissionais que lidam com o meio acadêmico e a pesquisa – sendo este um ambiente mais conservador e contraponto fundamental para a segurança nos tratamentos e nos protocolos propostos.

Como fica evidente nesta breve apresentação, é esta visão responsável, baseada em evidências de qualidade e – fundamental – de aplicação direta para o clínico, que o leitor poderá esperar nos artigos associados a este espaço. Aproveito para registrar que o aceite imediato para colaborar com esta sessão está totalmente relacionado ao fato de a editoração científica estar sob responsabilidade da Dra. Maristela Lobo – profissional com senso crítico aguçado e de formação, acadêmica e clínica, extremamente respeitável.

REFERÊNCIA
1. Gonçalves APR, Correa MB, Nahsan FPS, Soares CJ, Moraes RR. Use of scientific evidence by dentists in Brazil: Room for improving the evidence-based practice. PLoS ONE 13(9):e0203284. doi: 10.1371/journal. pone.0203284. eCollection 2018.

Luis Felipe J. Schneider

Mestre e Doutor em Materiais Dentários – FOP/Unicamp; Pós-Doutor em Materiais Dentários – Universidade de Manchester/Inglaterra; Coordenador do Núcleo de Pesquisa de Biomateriais Odontológicos da UFF.