Uma especialidade com comportamento adolescente

Uma especialidade com comportamento adolescente

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Luciano Artioli reforça que, em caso de dúvida, os profissionais optem por abordagens mais conservadoras e seguras para os pacientes.

A utilização de neurotoxinas e preenchedores dérmicos na prática da Odontologia já acontece há mais de uma década no País, mas a maior parte dos cirurgiões-dentistas brasileiros está descobrindo a Harmonização Orofacial (HOF) somente agora. Diante da rápida expansão dos cursos e da ascensão de inúmeros profissionais inexperientes a posições de destaque, existe certa preocupação entre os mais veteranos. É como se a nossa HOF se comportasse como um adolescente.

Vamos analisar: o ser humano passa por diversas etapas de aprendizado desde o seu nascimento. Quando criança, ele explora o mundo, enfrenta diversas inseguranças e busca constantemente o apoio, a proteção e os ensinamentos dos mais velhos. Porém, quando essa jovem criança cresce e chega à adolescência, passa a acreditar que já não precisa de supervisão. Ela se sente capaz e competente, melhor, mais esperta que os adultos, os quais, muitas vezes, interpreta como ultrapassados. O adolescente é confiante ao extremo e acredita que nada de mal vai lhe acontecer. De certo modo, crê que é independente e autônomo. Dá mais valor ao que dizem os colegas da mesma idade do que aos conselhos e às orientações dos adultos.

Veja como é simples traçar um paralelo entre o comportamento adolescente e a nossa recém-aprovada especialidade: quando começamos a ministrar os primeiros cursos com ácido hialurônico e toxina botulínica, os cirurgiões-dentistas dedicavam atenção e extremo cuidado com as técnicas que transmitíamos.

Anos depois, muitos colegas com menor experiência passaram a se apresentar como professores dessas técnicas. Alguns deles demonstram grande capacidade para se igualar ou até mesmo superar seus mestres; outros, lamentavelmente, estão totalmente despreparados para sequer exercer a HOF adequadamente, quanto mais atuar no ensino de outros profissionais.

Como resultado desse fenômeno, vemos o preocupante crescimento de complicações que poderiam ter sido evitadas, ou que foram agravadas pela incorreta abordagem técnica. Alguns casos são verdadeiras iatrogenias provocadas pelo excesso de confiança típico dos adolescentes, que não medem as consequências de seus atos.

Evidentemente, os pacientes são as maiores vítimas dessa conduta, mas não são os únicos. Todos os profissionais da Odontologia, que lutam para consolidar a HOF, têm sua reputação manchada por essa abordagem perigosa, inclusive a grande maioria, que é séria, competente e responsável.

Diante disso, eu convido a todos os colegas para que façam uma autocrítica acerca de suas próprias abordagens clínicas. Quando houver dúvida, optem por abordagens mais conservadoras e seguras para os pacientes. Se você é iniciante, não se iluda pelo que vê nas redes sociais.

Invista mais tempo nos estudos e procure um mentor para aconselhá-lo. Vamos passar essa mensagem adiante. Vamos cuidar para que a HOF atravesse a adolescência com poucos danos e sem nenhum verdadeiro trauma. Que a nossa especialidade possa chegar à maturidade com a máxima formação e o melhor conceito.


Confira todas as edições da coluna “Legislação”, de Luciano Artioli.