Tríade crítica: planejamento, plano de tratamento e execução

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Oswaldo Scopin destaca a evolução de cada uma das importantes etapas na rotina dos cirurgiões-dentistas.

Por Oswaldo Scopin


“O planejamento é a etapa mais importante em um tratamento odontológico.”

Essa afirmação tornou-se um verdadeiro mantra entre os cirurgiões-dentistas, seja na Harmonização Orofacial, na Ortodontia, na Prótese Dentária, na Implantodontia, ou em qualquer outra área de atuação.

Porém, o que tenho visto nas clínicas privadas, cursos, eventos e até mesmo na literatura científica, leva a outra análise: hoje, o problema é a execução!

Com a facilidade de captura de dados através de dispositivos digitais, o desenvolvimento de programas e a familiarização dos profissionais com as novas tecnologias, o planejamento se tornou algo muito mais previsível e direcionado. Obviamente, esses equipamentos demandam treinamento, tempo e a utilização correta das ferramentas disponíveis.

Em congressos, os planejamentos demonstrados com um verdadeiro show de tecnologia, aplicados em modelos (não de gesso, refiro-me às pessoas) impecáveis, que muitas vezes nem precisariam mudar nada em seus sorrisos. Nos livros, por sua vez, os casos clínicos são quase sempre “desenhados” em rostos perfeitos, ou quase. Isso é para se pensar.

Todos esses recursos mudaram radicalmente a nossa prática odontológica, principalmente para muitos profissionais que, como eu, estavam acostumados a planejar reabilitações complexas com modelos de gesso mal vazados, com alginato manipulado de maneira inadequada e com radiografias periapicais minúsculas.

Estamos cercados por todo o tipo de tecnologia, que faria o primeiro filme da série Star Wars parecer um vídeo amador. Com tantos recursos à nossa disposição, hoje é bem mais fácil fazer um planejamento. Mas o problema, em minha percepção, é o que vem depois desse planejamento. Ou seja, estamos falando do plano de tratamento e, principalmente, da execução. Juntas, essas três etapas formam a tríade crítica.

O plano de tratamento inclui a criação de uma sequência que se inicia com a explicação detalhada do procedimento para o paciente, apresentando os benefícios, os cuidados, os eventuais riscos e as possíveis intercorrências. Esse plano deve ser totalmente documentado e assinado para proteção do paciente e do profissional, pois como sabemos, em toda área da Saúde a decisão do tratamento deve ser sempre compartilhada.

A partir desse momento, a sequência deve ser determinada para organização de cada passo do processo, de forma detalhada e individualizada para cada caso. Esse plano pode oferecer algumas variações, pois é dependente de uma série de fatores, que incluiu o custo a ser investido pelo paciente e as preferências profissionais em relação a materiais e técnicas. O plano de tratamento é o mais discutível e mutável fator nas áreas de Saúde, visto que o diagnóstico foi realizado na fase inicial antes do planejamento e, normalmente, não tem muita variação.

Depois do diagnóstico, do planejamento e do plano de tratamento, chega finalmente o momento da execução, o que representa o problema mais crítico.

É importante ressaltar que determinados tipos de tratamentos demandam um treinamento extensivo e direcionado por parte do profissional nesta tríade crítica. Afinal, a Odontologia lida com elementos biológicos e variações anatômicas que o simples estudo não permite a compreensão completa. É preciso conhecimento prático.

Um cirurgião-dentista não sai realizando uma cirurgia ortognática apenas utilizando seus conhecimentos acadêmicos. Esse profissional precisa ser treinado. E, exaustivamente, assim como uma bailarina não sai dançando “O Lago dos Cisnes” em dois anos de aulas de balé clássico.

Sim, minhas caras e caros colegas, existe um padrão, há uma necessidade de “excesso” de prática antes de atingir a excelência1-2. O planejamento e o plano de tratamento estão cada vez mais fáceis de serem ensinados, elaborados e efetuados, mas a execução do procedimento, não.

A execução continua na dependência de treinamento contínuo, intenso e organizado, e para nós, cirurgiões-dentistas, o treinamento técnico intenso deve ser a meta antes de se atingir a excelência.

A tríade crítica planejamento, plano de tratamento e execução é crítica. Mas a execução exige cada vez mais dedicação e foco do profissional, pois esta é a etapa que entrega tudo ao paciente.

Confira todas as edições da coluna “Interface”.

Referências
1. Ericsson KA, Krampe RT, Tesch-Römer C. The Role of Deliberate Practice in the Acquisition of Expert Performance. Psychological Review 1993;100(3):363-406.
2. Crebbin W, Beasley SW, Watters DA. Clinical decision making: how surgeons do it. ANZ J Surg 2013;83(6):422-8.

 

Oswaldo Scopin

Oswaldo Scopin de Andrade
Mestre e doutor em Clínica Odontológica e Prótese Dental – Unicamp; Pós-graduação em Prótese e Oclusão pela NYU College of Dentistry; Coordenador do curso de Especialização em Odontologia Estética – Centro Universitário Senac/SP.
Orcid: 0000-0002-0857-4629.