Toxina botulínica no tratamento da paralisia facial

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Os benefícios da substância na sincinesia na paralisia facial são bem reconhecidos e contam com relatos de satisfação dos pacientes com o tratamento.

O estudo dos movimentos e da íntima relação entre os músculos e suas repercussões na mímica facial tem estimulado a descrição de novas abordagens, classificações e pontos de tratamento na clínica diária.

A tendência mundial no uso da toxina botulínica é pela obtenção de resultados naturais com a manutenção de algumas rugas de expressão. Esse conceito, adicionado ao desenvolvimento de produtos para o preenchimento de rugas e restauração do volume facial, requer uma forma dinâmica da avaliação do envelhecimento. Não há mais uma técnica estanque ou uma padronização simples, e quando se abordam técnicas mais avançadas, é necessário aprofundar o conhecimento1.

A toxina botulínica é muito segura nas doses utilizadas para indicações estéticas, e os efeitos colaterais tendem a ser raros, desde que sejam respeitadas as contraindicações. O paciente deve ser informado sobre as possibilidades, as limitações do tratamento e as possíveis intercorrências. Em casos de pacientes que apresentem algum tipo de assimetria, por exemplo, é necessária uma avaliação no ato da consulta para auxiliar o profissional a esclarecer dúvidas comuns entre os pacientes sobre procedimentos estéticos, além de esclarecer sobre possíveis expectativas irreais criadas pelo próprio paciente.

A toxina botulínica A (BTX-A) tem sido usada desde a década de 1970 para tratar uma variedade de condições que resultam em contração ou espasmo muscular anormal. Ele age impedindo a liberação de acetilcolina na junção neuromuscular, inibindo assim a contração muscular2. Seus benefícios na sincinesia na paralisia facial (regeneração neural aberrante dos músculos paralisados) são bem reconhecidos3-4.

Na paralisia facial, por exemplo, os músculos do lado normal contraem, causando dificuldade na articulação, ingestão de bebidas e constrangimento estético. A paralisia facial é cosmeticamente inaceitável para os pacientes devido à assimetria, especialmente ao falar e sorrir. Existem efeitos psicológicos significativos, uma vez que os pacientes não têm a confiança necessária para realizar muitas atividades diárias em público, como aparecer em fotografias.

Ao avaliar um paciente quanto a um possível procedimento de reanimação facial, é importante primeiro determinar se a paralisia muscular pode ser revertida. Também é essencial determinar a causa da paralisia, duração e déficits funcionais presentes. Estabelecer a causa da paralisia facial concede informações essenciais sobre o prognóstico e o curso esperado da paralisia5.

Essa paralisia dos músculos no lado afetado da face resulta em perda das rugas na região fronto-occipital, perda da prega nasolabial, queda do canto da boca e queda do canto do olho. Então, os músculos do lado não afetado do rosto apresentam uma contratura hiperativa. A toxina botulínica é então injetada nos músculos contralaterais normais da face para enfraquecê-los e restaurar a simetria dos movimentos ativo e passivo, neutralizando esses músculos hiperativos. O local da injeção depende da dinâmica dos músculos em cada paciente individual.

Os pacientes mais jovens naturalmente têm mais tônus muscular do que os pacientes mais velhos. Como a toxina botulínica funciona enfraquecendo a tensão muscular sem oposição dos músculos não afetados, o efeito é mais perceptível e o benefício é bem maior em pacientes mais jovens. Esse tipo de tratamento parece favorecer todos os graus de paralisia facial, especialmente aqueles com recuperação parcial do movimento facial inferior (House-Brackmann graus 2 e 3). Esse último grupo também é menos propenso a se submeter à cirurgia de reanimação facial, em que há sempre o risco de danificar qualquer função residual no lado afetado. A toxina botulínica melhora a simetria em pacientes com paralisia facial, é simples, aceitável e fornece aproximadamente quatro meses de benefício6.

A avaliação dos pacientes com paralisia facial é muito importante, e de forma individual. A concepção básica seria diminuir a contração dos músculos do lado não paralisado, igualando então os dois lados. Os pacientes relatam satisfação com o tratamento, embora o efeito não seja permanente. Indiscutivelmente, há uma significativa melhora na harmonização da face após o uso da toxina botulínica, devolvendo a autoestima ao paciente.

Referências
1. Carruthers J, Cohen SR, Joseph JH, Narins RS, Rubin M. The science and art of dermal fillers for soft-tissue augmentation. J Drugs Dermatol 2009;8(4):335-50.
2. Bentsianov B, Zalvan C, Blitzer A. Usos não cosméticos da toxina de botulinum. Clin Dermatol 2004;22:82-8.
3. de Maio M, Bento RF. Toxina botulínica na paralisia facial: um tratamento efetivo para a hipercinesia contralateral. Plast Reconstr Surg 2007;120(4):917-27.
4. Lee C, Kikkawa DO, Pasco NY, Granet DB. Indicações oculofaciais funcionais avançadas de toxina botulínica. Int Ophthalmol Clin 2005;45(3):77-91.
5. Kofi Boahene. Reanimando o rosto paralisado. 2013;5:49.
6. SA Sadiq, S Khwaja, SR Saeed. Toxina botulínica para melhorar a simetria facial inferior na paralisia do nervo facial. 2009 e Reunião Anual da British Oculoplastic Surgery Society 2010.

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Maria Geovânia Ferreira


Maria Geovânia Ferreira
Especialista em Prótese Dentária – UFU; Professora nas áreas de toxina botulínica, biomateriais preenchedores e anatomia facial.
Orcid: 0000-0002-0807-515X.