O ozônio (O3) é um gás de composição quimicamente instável, com três átomos de oxigênio, sendo considerado uma forma alotrópica do gás oxigênio (O2). Essa molécula, que pode ser identificada pela coloração azulada, se forma naturalmente em nossa atmosfera, em sua maior parte, pela ação dos raios ultravioleta. A camada de gás ozônio que se acumula ao redor do planeta desempenha um importante papel ao filtrar o excesso de radiação solar que incide sobre a Terra.
Além disso, o ozônio é um poderoso agente oxidante com diversas aplicações. Na área da Saúde, temos a ozonioterapia, que é reconhecida pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO) desde 2015, por conta de sua ação antimicrobiana, e por atuar diretamente na resposta imunológica e favorecer o reparo tecidual.
O gás pode ser obtido artificialmente por meio de um gerador, que faz passar oxigênio por um dielétrico de alta voltagem (efeito Corona), fornecendo uma mistura de ozônio e oxigênio, que pode ser regulada conforme a necessidade.
Entre diversas aplicações bem-sucedidas do ozônio, podemos destacar casos na agricultura, na indústria de alimentos, no abastecimento de água de diversas cidades e no tratamento de afluentes. O ozônio leva vantagem sobre outras substâncias, como o cloro, por eliminar microrganismos indesejados sem gerar resíduos químicos prejudiciais à saúde humana.
Ozonioterapia
No que diz respeito às aplicações por profissionais da Saúde, a ozonioterapia tem conquistado seu espaço gradativamente. A primeira publicação a esse respeito foi feita pelo cirurgião austríaco Erwin Payr – curiosamente, ele observou o ozônio sendo utilizado pela primeira vez por seu cirurgião-dentista. Seu livro “O tratamento com ozônio na cirurgia” foi publicado em 1935.
No segmento odontológico, Payr apresentou casos de gangrena pulpar tratados com ozônio, obtendo, já naquela época, um resultado de 75% de recuperação. Levando em consideração os recursos da ocasião, o resultado foi satisfatório.
Em 1979, o assunto voltou a ganhar relevância na comunidade médica com a publicação do livro “O ozônio medicinal”, de Hans H. Wolff , apresentando pesquisas melhor estruturadas com a substância.
É importante destacar que o entusiasmo pela descoberta acabou levando algumas pessoas a utilizar o ozônio indiscriminadamente, provocando diversos problemas graves e até mesmo mortes.
Aplicação prática
Com o aval do CFO, a utilização de ozônio na Odontologia é crescente, mas ainda pouco difundida. O Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) e o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) também autorizam seu uso. Por sua vez, o Conselho Federal de Medicina (CFM) rechaça a prática da ozonioterapia.
Ao utilizar o gerador de ozônio, a concentração da substância é um fator importante para determinar sua melhor aplicação. Quando utilizamos concentrações acima de 40% na mistura com oxigênio, estamos desejando um efeito destrutivo e vamos utilizá-lo na esterilização de equipamentos, de ambientes e por que não em úlceras infectadas, abcessos, tumores cancerígenos, canalículos dentários, pois sabemos não haver barreira na difusão desse gás e conhecemos sua ação efetiva sobre os germes.
Caso o efeito desejado seja reconstrutivo, a concentração de ozônio na mistura com oxigênio deve ser inferior a 40%, causando vasodilatação, neovascularização, estímulo de crescimento e incremento imunitário, efeito analgésico e principalmente anti-inflamatório, levando à reparação tecidual.
Assim como consideramos anteriormente, o ataque a bactérias, a vírus, a fungos etc., agora pensamos na reconstrução de uma cirurgia de gengiva, nos pós-cirúrgicos de uma extração dentária, na forma de irrigação de água ozonizada ou de aplicação do gás intragengival, prevenindo infecção e reduzindo o tempo de recuperação.
Recentemente, houve uma polêmica na Odontologia em que se discutia o eventual risco de se formar uma cultura de germes nos canalículos, inalcançáveis pelo cloro durante um tratamento endodôntico. Minha sugestão aos profissionais dessa especialidade é que busquem na literatura referências sobre o tratamento endodôntico utilizando ozônio. A ação da substância permite alcançar todos os canalículos como um eficiente bactericida; viricida; eliminador de esporos, algas e fungos; sanitizante e que não deixa subprodutos de sua atuação que não seja o oxigênio. Altamente oxidativo, o ozônio atua contra bactérias, vírus e vermes. Na concentração de 0,4% in vitro, esterilizou efetivamente cepas de Estafilococos aureus, Escherichia coli e Pseudomonas aeruginosa (Pereira et al).
Os patógenos causadores das gengivites, que evoluem para periodontites, são, em sua maioria, sensíveis ao ozônio. A aplicação é feita com a irrigação da água ozonizada nas bolsas periodontais durante raspagem subgengival (Indurkar MS, Verm R). Temos, então, o ozônio eliminando bactérias das gengivites e periodontites, melhorando a oxigenação por ativar o sistema sanguíneo e estimulando o sistema imunológico.
O uso da água ozonizada tem demonstrado, além da ação na flora bacteriana, melhora na inflamação da região. Com uma concentração de 4 mg/L, demonstrou ser eficaz contra gram-positivos, gram-negativos, Cândida albicans em cultura, bactérias em placas de biofilme e placa dental (Kumar A, Bhagwati S, Tiagi P, Kumar P). Dessa forma, o ozônio teria potencial interessante para o controle da infecção periodontal.
Na pele e na face
Na França, encontramos ainda a utilização do gás ozônio em tratamentos estéticos, por exemplo, para a região em torno dos olhos e rugas faciais.
Aplicações em lesões herpéticas mostram uma resolução de incrível rapidez, contradizendo tudo o que se sabia a respeito de tal patologia que, por vezes, chegava a se arrastar por meses, com intenso sofrimento dos pacientes, observa-se cura visual e dos sintomas em poucos dias.
Qualquer ponto pós-traumático, apresentando inflamação e/ou dor, pode ser beneficiado com a atividade analgésica e anti-inflamatória deste produto.
Vale salientar que a aplicação do gás intratecidual apresenta-se dolorosa, e essa intensidade de dor é proporcional à inflamação presente no local, com dor evanescente em torno de um minuto, restando a sensação de calor e o formigamento. O efeito analgésico e anti-inflamatório se instala em poucos minutos. As aplicações podem ter intervalos de dias, ou mesmo ser diárias (infecciosas), dependendo da patologia e do estado do paciente.
Por fim, espero ter incutido em seu pensamento a importância e a eficácia de um tratamento a tão baixo custo. Talvez o baixo custo e a impossibilidade de se patentear esse tratamento possam estar atravancando a disponibilização desse método aos brasileiros, com a afirmação de que não existem trabalhos científicos que comprovem a eficácia dos tratamentos realizados no Brasil.
O ozônio, na verdade, apresenta-se como mais uma opção (e que opção!) para o arsenal do cirurgião-dentista, de forma segura, eficaz, rápida e de baixo custo. Cuidados com o ozônio
Caso o paciente ou o profissional aspire acidentalmente o ozônio, pode ocorrer irritação da mucosa pulmonar. Caso aconteça, recomenda-se inalação de um corticoide e oxigênio úmido pelo período de uma a duas horas, 0,5 L/min.
É contraindicado o tratamento com ozônio àqueles que apresentam deficiência da enzima glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD ou favismo).
Convidado
João Francisco Veronezi
Nutrólogo – SBN; Medicina Estética – SBME.