Intercorrências: Márcia Viotti destaca que o profissional deve estar pronto para atuar adequadamente quando algo der errado.
Todos os dias, as mídias sociais despejam milhares de fotos mostrando inúmeras opções de tratamentos estéticos com resultados magníficos. Toda essa informação encanta pessoas leigas e as encoraja a procurar por tratamentos similares. No entanto, elas desconhecem se são indicadas àquele tratamento e todos os riscos que qualquer tratamento envolve.
Diante desse tipo de situação, temos a responsabilidade de esclarecer o que é mais adequado diante das queixas (ou melhor, desejos) daquele paciente. É preciso ter conhecimento científico e anatômico sólido para fazer essa orientação ao paciente, mostrando domínio do assunto e segurança para apontar o plano de tratamento mais adequado.
Esse profissional deve saber que, ao indicar determinado tipo de tratamento, por exemplo, a toxina botulínica, ele poderá apresentar assimetria de sobrancelhas, ptose palpebral, sobrecarga (peso) na região medial das sobrancelhas, assimetria no sorriso, ressalto de fibras do músculo masseter, assimetria da comissura bucal, fechamento de corredor bucal (diminuição da amplitude do sorriso), eversão unilateral de lábio inferior, ressalto de fibras do músculo mentual, alteração na deglutição e na fala (disfagia/disfonia) e até uma reação alérgica ao produto, sendo esta não muito comum. Tudo isso está relacionado ao conhecimento profundo que devemos ter sobre a musculatura em que aquela substância será injetada, bem como a adequada técnica de aplicação e o conhecimento do produto com o qual se trabalha.
Além de informar e orientar o paciente, o profissional deve estar pronto para atuar adequadamente quando algo der errado. É necessário estar a par das inúmeras alternativas criadas para a reversão do efeito indesejado do tratamento.
Dando sequência ao nosso exemplo da toxina botulínica, conforme descrito por diversos autores, o músculo retomará sua atividade somente após o rebrotamento axonal. Se a intercorrência foi causada por aplicação da toxina no músculo-alvo, ele somente voltará à sua atividade normal em cerca de 120 dias; se a intercorrência ocorreu por difusão do produto em outra área, a reversão poderá ocorrer em, aproximadamente, 20 dias. No entanto, isso não é estabelecido como protocolo, visto que existe uma variação enorme de um organismo para o outro.
Até aqui, estamos considerando como exemplo um tratamento com toxina botulínica. Para o profissional de Harmonização Orofacial, ainda poderíamos mencionar diversas intercorrências possíveis com materiais preenchedores, bioestimuladores, fios, tratamentos superficiais de pele etc. Sendo elas: excesso de material, oclusões vasculares, oclusões arteriais, necroses, cegueira, processos alérgicos, inflamações, infecções, granulomas, eritemas, edemas, hematomas, queimaduras, descamação excessiva, entre outras.
A cada tratamento proposto pelo profissional, é imprescindível ter amplo domínio das intercorrências que ele pode acarretar. É mandatório ao profissional da Harmonização Orofacial manter em seu consultório medicamentos e substâncias (como hialuronidase) que possam reverter o processo das intercorrências, não esperando para adquiri-los somente no momento em que for necessário utilizá-los.
Diante das inúmeras possibilidades de tratamento (e suas correspondentes intercorrências), devemos ter comprometimento com o bem-estar do paciente e seriedade com a nossa atuação nessa área.
Confira outras edições da coluna “Estruturas anatômicas”, de Márcia Viotti.
Márcia Viotti
Especialista em Dentística – Unicastelo; Habilitada em Harmonização Orofacial – MARC Institute-Miami; Anatomista MARC Institute/Instituto Altamiro Flávio; Professora em cursos livres de Harmonização Orofacial.
Orcid: 0000-0003-0150-3796.