Maria Geovânia Ferreira ressalta que efeitos adversos da toxina botulínica precisam ser bem conhecidos por parte do profissional que faz o seu uso.
A toxina botulínica A é uma substância bastante conhecida por sua ação em tratamentos estéticos e funcionais. Sua utilização traz consigo efeitos adversos que precisam ser bem conhecidos por parte do profissional que faz o seu uso.
Segundo um estudo1 que reuniu casos de 1.003 pacientes submetidos ao tratamento com toxina botulínica A, verificou-se efeitos adversos em 18,14% do grupo (182 indivíduos). Diante dessa avaliação, concluiu-se que a reação adversa com maior incidência era a ptose palpebral.
Particularmente nesses casos, podemos afirmar que tais reações adversas/complicações podem ter duas origens diversas: por erro do profissional na técnica da aplicação e por efeito decorrente do próprio produto2.
Aos casos em que houve erro na aplicação, devemos somar os edemas e as ptoses decorrentes da incorreta diluição do produto ou utilização de volume de líquido inadequado na injeção.
Os casos de diplopia (visão dupla) são consequência da difusão da toxina botulínica para dentro da órbita do paciente, afetando os músculos reto laterais.
Por isso, é preciso estar atento ao agravamento das linhas zigomáticas durante a aplicação periorbitária. Outro problema é o agravamento da herniação de gordura da região da pálpebra inferior, que leva à queda da pálpebra inferior e ectrópio. Essa complicação pode estar associada à difusão do produto ou também à paralisação excessiva da pálpebra inferior. Vale destacar que muitos dos pacientes envolvidos nessa situação não tinham indicação para o uso da toxina botulínica, e sim para remoção cirúrgica do excesso de gordura na região da pálpebra inferior3.
Entre os pacientes homens, uma queixa relatada com frequência é a elevação da cauda do supercílio, justamente por conferir aspectos femininos à expressão do paciente. Tal elevação é resultado de uma paralisia completa da glabela e da região central da testa, que leva a uma ação compensatória da porção lateral do músculo frontal.
Na região dos lábios, podemos destacar a ptose do lábio superior, que ocorre por erro na técnica de aplicação ou de dose inadequada do fármaco. O efeito sobre o músculo elevador do lábio superior resulta em assimetria do sorriso. Outro relato é a perda de parte da movimentação dos lábios, que pode afetar a fala e dificultar algumas tarefas, como fumar e tocar instrumentos de sopro, por conta de doses elevadas de toxina botulínica aplicadas sobre o músculo orbicular da boca para o tratamento das rugas periorais.
Na região do pescoço, os principais efeitos adversos relatados são a disfagia e a dificuldade para a movimentação do pescoço. Esse problema está associado à aplicação de altas doses de toxina botulínica no músculo do platisma, como resultado da difusão do produto.
Por fim, vale lembrar que qualquer tipo de tratamento está sujeito a efeitos indesejados. Os pacientes devem sempre ser informados a respeito de tais riscos. No caso da toxina botulínica A, a maior parte dos problemas pode ser evitada com as corretas indicações dos tratamentos, o respeito às dosagens e a execução adequada da técnica de aplicação do produto.
Referências
- Benetti Zagui RM, Matayoshi S, Castelo Moura F. Efeitos adversos associados à aplicação de toxina botulínica na face: revisão sistemática com meta-análise. Departamento de Oftalmologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP – São Paulo – Brasil. Arq Bras Oftalmol 2008;71(6):894-901.
- Hatheway CL, Ferreira J. Detection and Identification of Clostridium botulinum Neurotoxins. In: Natural Toxins II Plenum Press, cap. 39, 1996. p. 481-98.
- Mello Sposito MM. Toxina botulínica tipo A – propriedades farmacológicas e uso clínico. ACTA FISIÁTR 2004;(Supl 01):S7-S44.
Maria Geovânia Ferreira
Especialista em Prótese Dentária – UFU; Professora nas áreas de toxina botulínica, biomateriais preenchedores e anatomia facial.
Orcid: 0000-0002-0807-515X.