Aumento da dimensão vertical de oclusão
Situação inicial do caso, com a perda de anatomia oclusal nos molares, caracterizando o desgaste por erosão.

Aumento da dimensão vertical de oclusão

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Aumento da dimensão vertical de oclusão: diagnóstico e ferramentas iniciais para condução de casos multidisciplinares – parte 1.

O aumento da dimensão vertical de oclusão (DVO) por meio de procedimentos restauradores diretos e indiretos se tornou recorrente na Odontologia atual. Esta alteração, por exemplo, é realizada muitas vezes utilizando resinas compostas fixadas de forma adesiva na oclusal dos dentes posteriores.

A literatura é vasta em documentação científica mostrando que consequências negativas ou sintomas de desconforto em casos desta alteração são transitórios e controláveis1. Este artifício é muito usado não somente para recuperar a dimensão vertical perdida por desgaste dental (FIGURA 1) e extrações, mas também para conseguir a abertura imediata de “mordida” nos casos com sobremordida profunda. Por exemplo, criando espaço entre os incisivos e possibilitando assim a correção e movimentação ortodôntica em pacientes com “mordidas” em topo, mordida cruzada anterior, entre outras posições classificadas como patológicas.

As especialidades que frequentemente utilizam este recurso são a Ortodontia e a Odontologia Restauradora (Dentística e Prótese Dentária), no entanto, antes de usá-lo, é prudente observar cuidadosamente duas características da oclusão do paciente: a exposição dos incisivos superiores em relação ao estômio superior e o trespasse vertical dos incisivos. Ao final do tratamento e com a DVO já aumentada, é ideal que o paciente tenha uma exposição dos incisivos de aproximadamente 3 mm, quando jovem2, e um trespasse vertical cobrindo o terço incisal dos incisivos inferiores. A não observância destes valores poderá trazer desarmonia na estética facial, como sorriso gengival ou ausência de selamento labial.

No caso clínico aqui reportado, a paciente tinha desgastes generalizados nas bordas incisais e oclusais, e procurou inicialmente o protesista com a intenção de fazer laminados cerâmicos tipo “lente de contato” nos incisivos superiores. No entanto, ela apresentava mordida profunda com um enorme trespasse vertical e praticamente não havia exposição dos incisivos superiores. Desta maneira, era preciso aumentar a exposição dos incisivos, mas o trespasse vertical aumentado não permitia tal procedimento.

Havia duas possibilidades para a correção da sobremordida profunda: a intrusão apenas dos incisivos inferiores ou o aumento da dimensão vertical de oclusão através de restaurações adesivas (overlays/table tops), cobrindo a oclusal nos dentes posteriores e criando espaço para a movimentação dental.

Elegemos a segunda opção como plano de tratamento porque a paciente apresentava sinais clínicos de diminuição da DVO. Na FIGURA 2, é possível ver as restaurações adesivas em resina composta em posição. Desta forma, além de recuperar a dimensão vertical natural, conseguimos uma imediata correção do trespasse vertical e criamos um gap entre os incisivos. Isto possibilita a protrusão dos incisivos inferiores, o que facilita a obtenção de um guia incisal mais brando e sem travamentos ao final do tratamento. Na sequência de fotografias laterais (FIGURAS 3 A 5), é possível ver o benefício de previamente reanatomizar dentes com desgaste decorrente de alguma parafunção ou patologia oclusal.

A autorrotação da mandíbula pelo aumento da DVO através das próteses posteriores cria uma relação de Classe II entre maxila e mandíbula, que no caso reportado foi corrigida com o auxílio de mini-implantes extra-alveolares (FIGURA 5) apoiados na crista infrazigomática (IZC).

Na sequência de imagens, é possível ver um exemplo de como a integração entre as disciplinas de Ortodontia e Odontologia Restauradora é fundamental em casos de alteração de DVO, exigindo critério e conhecimento multidisciplinar.

Referências
1. Abduo J. Safety of increasing vertical dimension of occlusion: a systematic review. Quintessence Int 2012;43(5):369-80.
2. Vig RG, Brundo GC. The kinetics of tooth display. J Prosthet Dent 1978;39(5):502-4.

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Nesta primeira parte, foi exemplificada uma possibilidade terapêutica que, além de ser conservadora do ponto de vista restaurador, auxilia muito a dinâmica do tratamento ortodôntico. Nas próximas edições, serão apresentadas outras situações e seus desdobramentos.