A estética da face exerce grande impacto nas relações interpessoais, podendo gerar atração ou repulsa, interferir na autoestima e influenciar na construção da personalidade do indivíduo. Alguns fatores podem comprometer a estética facial, como o processo de envelhecimento, a presença de desordens dentoesqueléticas, as sequelas de traumatismos ou de remoção de tumores, entre outros.
Nesses casos, os preenchedores faciais podem ser utilizados para promover rejuvenescimento e estética facial, camuflar desarmonia decorrente de crescimento facial padrão II, III, longo ou curto ou, ainda, reduzir defeitos para otimizar próteses bucomaxilofaciais, promovendo inúmeros benefícios aos pacientes.
A hidroxiapatita de cálcio (CaHA) é utilizada como preenchedor facial há mais de uma década e atualmente é o segundo preenchedor de tecidos moles mais popular no mundo, depois do ácido hialurônico. O interesse dos profissionais brasileiros pela CaHA tem aumentado com a chegada de novas marcas ao mercado nacional, trazendo competitividade tecnológica e preços atrativos.
A CaHA é um agente altamente eficaz para aumento de volume dos tecidos moles faciais, conferindo contorno e sustentação. Os benefícios estéticos não são apenas derivados do volume do produto injetado, mas também da bioestimulação. A CaHA consiste em 30% de microesferas de hidroxiapatita de cálcio e 70% de gel de carboximetilcelulose de sódio (CMC), um derivado da celulose solúvel em água. Após a injeção, o gel de CMC é rapidamente decomposto, enquanto as microesferas de CaHA atuam como uma espécie de arcabouço para o colágeno recém-sintetizado.
Isso significa que o preenchedor é lentamente substituído por tecido conjuntivo autólogo ou neocolágeno. A neocolagênese já pode ser observada na quarta semana e perdura até, pelo menos, 12 meses após a injeção. A alta elasticidade e a viscosidade conferem à CaHA a capacidade de ser moldada e contornada no local injetado, tornando-a um material versátil e adequado para ser usado na maioria dos casos de harmonização facial. Sua aplicação pode ser feita na derme profunda e nos planos subcutâneo e supraperiostal. O volume a ser injetado varia conforme o local e a extensão do problema em questão, bem como o grau de envelhecimento facial.
O envelhecimento é bastante visível na face, e resulta de um complexo processo que ocorre em vários tecidos e tem etiologia multifatorial. Na pele, incialmente, a contração repetida dos músculos da mímica facial gera linhas dinâmicas que, com o tempo e associadas à perda de colágeno, elastina, ácido hialurônico, fotodano, entre outros fatores, tornam-se linhas estáticas e sulcos.
A perda de volume facial é também um aspecto crucial e está relacionada ao processo de reabsorção dos ossos da face, frouxidão dos tecidos e lipoatrofia em alguns compartimentos de gordura. Linhas, sulcos, perda de volume, deslocamento de tecido, áreas de sombras e descontinuidade entre regiões da face são alguns aspectos resultantes do envelhecimento, os quais são alvos dos procedimentos estéticos.
Além disso, algumas características favorecem a composição de um padrão de beleza da face estabelecido culturalmente. Proporções adequadas entre altura e largura da face, e entre a distância bigoníaca e a distância bizigomática conferem uma forma oval considerada agradável e harmoniosa. A projeção da face média é uma característica importante, pois promove uma aparência plena da face bem como o contorno bem definido da mandíbula e o volume adequado do mento. O contorno facial uniforme e contínuo refl ete juventude.
Visando ao restabelecimento de uma topografia facial agradável e jovem, algumas regiões da face são descritas por Dallara e colaboradores como sítios específicos para injeção de CaHa. São eles: o bordo inferior da mandíbula; o ângulo mandibular; o sulco pre-jowl; o ramomandibular; a região posterior da bochecha e a região malar. Glabela, margem orbital, lábios e área perioral são regiões contraindicadas para o uso da CaHa. As injeções podem ser realizadas com cânulas ou agulhas, dependendo da preferência do profissional, sendo que o uso de cânula é recomendado para injetar volumes maiores e evitar acidentes intravasculares.
Edema e hematoma são reações adversas esperadas e transitórias após a aplicação de CaHa e causam pouca preocupação. Os nódulos, entretanto, são um efeito adverso comum e podem causar incômodo e insatisfação ao paciente. É muito importante esclarecermos a diferença entre granulomas e nódulos: um granuloma é um diagnóstico puramente histológico; um nódulo, por sua vez, é uma descrição clínica.
Os nódulos de CaHA podem ser divididos em nódulos “iniciais” (início dentro de duas semanas após a injeção) ou “tardios” (início após duas semanas da injeção). Um nódulo inicial, provavelmente, é resultado de falhas técnicas como preenchimento excessivo, injeção superfi cial e irregularidades de contorno, enquanto nódulos tardios podem surgir devido ao deslocamento do material, contrações musculares excessivas, gravidade, formação de cápsula ou reação a corpo estranho. Evitar a aplicação em áreas dinâmicas da face (periorbitária e perioral) reduz signifi cativamente a incidência de nódulos. Quanto ao tratamento, não se deve ignorar o caráter temporário do produto, além disso, os nódulos normalmente desaparecem sem intervenção.
O grande sucesso do biomaterial CaHa se deve ao efeito de estimulação da produção de colágeno e a capacidade de volumização. A durabilidade dos resultados também é um atrativo, já que a durabilidade dos resultados da CaHA é superior à do ácido hialurônico, podendo chegar a dois anos. Entretanto, a CaHA é um produto técnico-dependente e deve ser utilizado por profissionais capacitados.
SUGESTÕES DE LEITURA
• Muti GF. Open-label, post-marketing study to evaluate the performance and safety of calcium hydroxylapatite with integral lidocaine to correct facial volume loss. J Drugs Dermatol 2019;18(1):86-91.
• Tracy L, Ridgway J, Nelson JS, Lowe N, Wong B. Calcium hydroxylapatite associated softtissue necrosis: a case report and treatment guideline. J Plast Reconstr Aesthet Surg 2014;67(4):564-8.
• Kadouch JA. Calcium hydroxylapatite: a review on safety and complications. J Cosmet Dermatol 2017;16(2):152-61.
• Dallara JM, Baspeyras M, Bui P, Cartier H, Charavel MH, Dumas L.. Calcium hydroxylapatite for jawline rejuvenation: consensus recommendations. J Cosmet Dermatol 2014;13(1):3-14.
Lucila Largura
Pós-doutoranda em Bioengenharia – UFPR; Doutora em Ortodontia – PUC/PR; Especialista e mestra em Ortodontia – SLM; Pós-graduada em Terapêutica Odontológica com Toxina Botulínica e Preenchimento Orofacial – Detox/USA e Universidade Argentina John F. Kennedy (UK); Coordenadora de pós-graduação em Harmonização Orofacial – IOA Miami.