A guerra pela face precisa se transformar em parceria

A guerra pela face precisa se transformar em parceria

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Guerra pela face: profissionais da Saúde precisam se enxergar como parceiros, e não como concorrentes.

Vivemos em uma arena de batalha. O cirurgião-dentista já utiliza toxina botulínica e preenchedores faciais há muitos anos, porém, com a necessária correção da Resolução CFO 112/11, que teve início nas resoluções do CFO 145/14 e 146/14, esses recursos terapêuticos se tornaram mais populares entre os cirurgiões-dentistas, passando pela resolução CFO 176/16 que visou melhorar a regulamentação, culminando com o reconhecimento como especialidade, através da resolução CFO 198/19. Sendo assim, o único profissional de Saúde que pode ser referenciado como especialista em Harmonização Orofacial é o cirurgião-dentista, já que essa especialidade não existe na área médica.

Milhares de cirurgiões-dentistas perceberam esse novo nicho de atendimento e deu-se início à febre de novos profissionais focados em harmonização ou mesmo em estética orofacial.

Uma guerra declarada se instaurou: algumas sociedades médicas, principalmente as de Dermatologia e de Cirurgia Plástica, ingressaram na Justiça tentando proibir o “improibível”, além de investirem em campanhas para manchar a imagem do profissional de Odontologia. A Lei Federal 5.081/66 dá a prerrogativa legal para o cirurgião-dentista trabalhar na face. Contamos ainda com a especialidade de cirurgia e traumatologia bucomaxilofacial (CTBMF), que possui procedimentos em sua rotina que não são na cavidade oral, como a redução de fraturas de órbita, ossos nasais e osso zigomático. Ampliando o exemplo para a prótese bucomaxilofacial, temos também a reconstrução de olhos, narizes, ouvidos etc. No entanto, como esses especialistas são uma minoria, a população ainda desconhece seu trabalho e, por consequência, a competência do profissional de Odontologia para atuar na região da face.

Diante disso, um movimento recente chegou propor a mudança de nomenclatura da profissão, para melhor definir a verdadeira abrangência da atuação do cirurgião-dentista, para “médico orofacial” ou “cirurgião orofacial”, visando a deixar claro para a sociedade que dentista não precisa cuidar só de dentes.

Vale lembrar que a Lei 12.842, conhecida como a lei do “Ato médico”, deixa explícito em seu parágrafo sexto: “O disposto deste artigo não se aplica à Odontologia, no âmbito de sua área de atuação”.

Só existe guerra quando a mentalidade dos líderes é de escassez, essa que encara o colega como concorrente. É notória tal mentalidade quando vemos que, em alguns eventos de Dermatologia ou Cirurgia Plástica, o profissional de outra especialidade não pode se inscrever em seus congressos, quiçá de outra área do conhecimento, bem como seus membros também ficam proibidos de palestrarem em eventos que não sejam da especialidade.

Como resolver isso? Estimulando a guerra? Chamando esses líderes para o ringue? Claro que não. Ao entender a natureza humana, fica evidente que a reação destes é motivada pelo medo, em que a real preocupação é a reserva de mercado. Isso explica os comportamentos retrógrados para feudos profissionais.

Que fique claro: o erro pode acontecer com qualquer profissional. Erro médico mata, mas não é por isso que iremos desqualificar a Medicina. Ao compararmos dentistas com boa formação e médicos com boa formação, apesar das diferenças, veremos condutas semelhantes na execução de procedimentos estéticos orofaciais.

Erros médicos e odontológicos devem ser punidos pelos seus respectivos órgãos. E ao entender que o foco deve ser o bem-estar do paciente, e não a sua reserva de mercado, bons profissionais nas diversas áreas de formação se unirão no amor e no cuidado ao próximo.

O amor verdadeiro é o remédio. O amor gera nos profissionais um comportamento de abundância, ao invés de escassez. Com isso, teremos compartilhamento de ideias e sinergia entre os profissionais.

Enxergaremos os profissionais como parceiros e não como concorrentes. Vamos agir como profissionais altruístas e que vestem a camisa de uma saúde integral, em que todos têm muito a ensinar e a aprender. Esse é o verdadeiro remédio contra as mentes pequenas que, no fundo, são apenas imaturas.

Confira todas as edições da coluna “Legislação”, de Luciano Artioli.