O caminho para uma carreira consistente

O caminho para uma carreira consistente

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A formação clínica e acadêmica em Harmonização Orofacial está impactando o mercado odontológico. Veja quais são os passos importantes para trilhar uma trajetória segura e de sucesso.

Criada em 2019, a especialidade de Harmonização Orofacial literalmente movimentou as bases da Odontologia tradicional, quebrando diversos paradigmas e tornando-se disruptiva em todos os aspectos. No entanto, muitos cirurgiões-dentistas permanecem exercendo a Odontologia intraoral: uns por opção, outros para evitar o desgaste de sair da zona de conforto; e tem ainda os que não se sentem seguros para atuar sem o devido conhecimento científico e clínico. Este último grupo se beneficiará dos cursos de longa duração, mais embasados científica e clinicamente, e com professores cada vez mais engajados em formações de excelência.

COMO ESCOLHER

Ao procurar cursos em Harmonização Orofacial, é importante saber:

1. Cursos de curta duração (cursos livres, extensões e imersões): são oportunidades de informação para quem deseja saber do que se trata a HOF; indicar procedimentos comumente questionados por pacientes; encaminhar a outros profissionais mais capacitados; decidir se realmente deseja se aprofundar na área; ou para aprender uma técnica específica (ideal para quem já tem uma boa bagagem clínica nessa área). Não é possível exigir formação aprofundada em cursos curtos ou de imersão, e eles podem ajudar o profissional a se posicionar no mercado.

2. Cursos de média duração (residências, aperfeiçoamentos, atualizações): são para quem deseja se atualizar ou aperfeiçoar em HOF. Com mais tempo de prática clínica, o profissional tende a ser sentir mais seguro e a ampliar seu portfólio de técnicas.

3. Cursos de longa duração (especialização): são para formação. Com no mínimo 18 meses, permitem ao profissional ter tempo suficiente para o aprendizado escalonado e gradual. É um curso que ensina filosofia de trabalho, diagnóstico, planejamento e abordagens clínicas, englobando todas as áreas de concentração da Harmonização Orofacial definidas pelo Conselho Federal de Odontologia. O desenvolvimento de atividades laboratoriais e clínicas é primordial para a formação do especialista.

4. Cursos de formação acadêmica (mestrado): embasam a formação de quem deseja exercer docência, pesquisa ou atividades de consultoria técnica relacionada a empresas e indústrias. A clínica neste tipo de curso não é fundamental e, inclusive, pode não estar presente em um mestrado exclusivo para especialistas, por exemplo. Mas o estudo crítico, a avaliação das bases científicas às práticas clínicas, a escrita acadêmica, o desenvolvimento de projetos, patentes, produtos e linhas de pesquisa serão valorizados. Esses atributos visam à formação de profissionais de excelência, capazes de formar outros profissionais com mais consistência posteriormente.

O MERCADO E A HOF

Embora ainda esteja em déficit de profissionais qualificados, por ser uma área nova, o mercado e as empresas já perceberam os números expressivos da atuação do cirurgião-dentista na face, que tendem a aumentar nos próximos anos. A visão que o cirurgião-dentista tem sobre a face é peculiar e somará a outros profissionais da Saúde, como médicos, biomédicos, farmacêuticos, fisioterapeutas, dentre outros.

Nesse contexto, é importante salientar que o dentista é o único profissional capaz de realizar a verdadeira harmonização orofacial. As demais áreas da Saúde podem realizar apenas a harmonização facial. Essa é uma das grandes vantagens da Odontologia e, por esse motivo, é importante permanecer integrando as práticas clínicas intra e extraorais, e exercendo a Odontologia multidisciplinar.

CARREIRA CONSISTENTE

Existem inúmeros profissionais realizando técnicas de HOF sem o mínimo de formação para tal. O risco de acontecerem intercorrências, complicações e efeitos adversos aumenta muito nessas condições e, diante dessas adversidades, há também o risco de questionamentos jurídicos e até de cassações do direito de exercer a Odontologia. Por isso, é fundamental investir em uma formação profissional consistente e séria.

Na busca por uma carreira consistente, é importante:

1. Aprofundar-se no estudo da anatomia de todas as camadas da face. Embora a anatomia de cabeça e pescoço tenha sido ensinada na faculdade, não foi aplicada aos procedimentos da HOF. Por isso, esse conhecimento é extremamente importante para entender a regra e as variações dos tecidos anatômicos, e ter mais segurança na indicação e na execução de técnicas.

2. Ser organizado e ter excelência nas documentações clínicas para obter um diagnóstico assertivo. A excelência deve começar pela anamnese, identificando as reais queixas e necessidades do paciente, bem como pelo exame físico, com fotografias (realizadas de maneira profissional e sem distorções), filmagens e escaneamento facial para agregar ainda mais informações à análise da face.

3. Começar o planejamento valorizando a seguinte ordem: saúde, função, estética e nível de “sustentabilidade” (ou seja, engloba o conceito de longevidade). Conversar com o paciente sobre riscos e benefícios, e principalmente sobre expectativa versus realidade. Os pacientes motivados por estética costumam ter expectativas irreais sobre os resultados de quaisquer tratamentos. Também é importante deixar claro que os resultados são individuais e incomparáveis com os de outros pacientes, afinal cada indivíduo é único.

4. “Menos é mais”: jamais exagerar em quantidade de produtos ou sobreposição de técnicas. A HOF deve ser pensada como um tratamento progressivo e consistente de reestruturação e reposicionamento teciduais da face. Resultados impactantes e imediatos não correspondem à realidade na imensa maioria dos casos.

5. Trabalhar com múltiplas opções terapêuticas da HOF, para os mais diversos tipos de pacientes. Existem muitas maneiras de atingir resultados clínicos semelhantes, e esses vários “caminhos” devem ser oferecidos para o paciente escolher o mais adequado à sua realidade.

6. Preparar-se para atuar de forma rápida e consistente se intercorrências, complicações e efeitos adversos acontecerem. Diagnosticar e tratar de maneira imediata e mediata são pré-requisitos para o sucesso no tratamento de situações clínicas desagradáveis. E jamais esquivar-se da responsabilidade sobre o paciente. Ética, cuidado, responsabilidade e postura profissional são essenciais no relacionamento paciente-profissional.

Não é complicado ter sucesso naquilo que se faz, mas não existem atalhos para quem deseja uma carreira consistente. A fórmula é simples: foco, esforço, estudo, disciplina, calma e comportamento ético. Mas nem todos estão dispostos ao crescimento gradual por meio dessas ferramentas. Com metas claras, é mais fácil traçar estratégias de como chegar lá.

Referências

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