Materiais odontológicos e redes sociais: evidências ou interesses

Materiais odontológicos e redes sociais: evidências ou interesses

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A exposição excessiva das redes sociais pode gerar disseminação de informações de forma incorreta ou superficial. Como evitar?


O uso cada vez mais frequente de redes sociais por parte da população tem levado a fortes mudanças comportamentais. Estudos recentes demonstram que o compartilhamento de fotos pelo Instagram pode impactar negativamente o sono, a autoimagem e elevar o medo de jovens de se sentirem socialmente excluídos de acontecimentos e tendências.

Diante desse cenário, pode-se acreditar que a intensa exposição do sorriso da população em geral – em especial das (sub)celebridades, todos perfeitamente brancos e alinhados – esteja influenciando a população e gerando um aumento na procura por procedimentos estéticos.

Infelizmente, o excesso de intervenções odontológicas frequentemente pode gerar efeitos deletérios sobre a saúde bucal e consequente decepção, gerando conflitos na relação entre o cirurgião-dentista e o paciente.

Além disso, a Odontologia brasileira convive com outro agravante: o número excessivo de cirurgiões-dentistas. Diante da competitividade acirrada, muitos profissionais procuram aprender novas técnicas para se diferenciar no mercado. Assim, as redes sociais tornaram-se um terreno fértil para anúncios e mais anúncios de cursos rápidos voltados para técnicas e apresentação de materiais.

Naturalmente, alguns desses cursos são ministrados por profissionais de excelente formação acadêmica e/ou grande experiência clínica, agregando conteúdo e conhecimento ao programa. Por outro lado, é cada vez mais frequente o surgimento de supostos professores com qualificação questionável. Suas aulas têm o conteúdo empobrecido e, muitas vezes, repetem trechos inteiros dos cursos proferidos por professores consagrados, que construíram seu nome ao longo de anos de estudo e dedicação. Em casos mais graves, utilizam fontes de informação de baixo valor em uma tentativa de mostrar que estão baseados em evidências.

Também, existem os casos em que professores e/ou pesquisadores respeitados proferem aulas, cursos ou palestras sob o patrocínio de empresas. Nesses casos, não há motivos para críticas, uma vez que a relação comercial entre o profissional e a empresa acontece de forma transparente e o público é devidamente informado sobre esse viés de conteúdo. Pode-se dizer até que esse modelo de relacionamento expressa o respeito de uma determinada empresa pelo conhecimento e, acima de tudo, credibilidade daquele docente.

Entretanto, assim como a prática clínica e a docência têm sido deturpadas, a internet e as redes sociais criaram verdadeiros propagandistas, muitas vezes, sem o consentimento das próprias empresas pelos quais a “estrela” declama seu “amor”. Esse tipo de exposição muitas vezes dissemina informações de forma incorreta ou superficial, como o consagrado comentário “eu uso” como evidências, mas que não passam de mero interesse pessoal.

Confira todas as edições da coluna “Estética branca”, de Luis Felipe J. Schneider.

Luis Felipe J. Schneider

Luis Felipe J. Schneider
Professor associado – FO/UFF; Professor – Universidade Veiga de Almeida; Doutor em Materiais Dentários – FOP/Unicamp, OHSU, EUA; Pós-doutor em Biomateriais – Universidade de Manchester/Inglaterra; Pesquisador Faperj.
Orcid: 0000-0002-7154-8845.

 

Colaboradores:

Benezio De Souza Junior
Graduando e participante da disciplina de Odontologia baseada em evidências – FO/UFF.

Gracielle Dias Bento
Graduanda e participante da disciplina de Odontologia baseada em evidências – FO/UFF.

Gabrielle Dias Bento
Graduanda e participante da disciplina de Odontologia baseada em evidências – FO/UFF.

Rita de Cássia Martins Moraes Moraes
Professora adjunta nas áreas de Prótese Dentária e Oclusão – FO/UFF.