Introdução
Muito tem se falado nos últimos anos sobre a tendência dos tratamentos estéticos obtidos através da utilização dos laminados cerâmicos ultrafinos, popularmente conhecidos como lentes de contato odontológicas. Termos como: minimamente invasivo, ultraconservador, prepless, entre outros, têm sido exaustivamente utilizados para definir os tratamentos com laminados de mínima espessura, que exigem pouco ou nenhum desgaste da estrutura natural dos dentes para a sua execução.
Preservação de esmalte e saúde periodontal
Estudos longitudinais demonstraram uma taxa de sobrevivência de 94% para os laminados minimamente invasivos¹. Um estudo metanalítico a respeito da sobrevivência de veneers feldspáticas apresentou como conclusão que, aproximadamente, 95% destas restaurações ainda estariam em perfeito uso após dez anos, desde que fossem cimentadas sobre esmalte². Assim, entende-se que o sucesso da adesão dos cimentos resinosos é dependente de esmalte. Portanto, a cimentação dos laminados predominantemente sobre esmalte é uma característica altamente desejada quando pensamos na longevidade dos tratamentos com laminados cerâmicos.
Além disso, é importante entender que uma série de pré-requisitos devem ser atendidos para que possamos executar um tratamento estético sem a necessidade de preparos. E mais importante é entender que a ausência de preparos e términos cervicais não é justificativa para laminados com sobrecontornos na região cervical nem desadaptações, que podem levar a consequências desastrosas, principalmente no que se refere à saúde periodontal a longo prazo. Um correto protocolo de cimentação, acabamento e polimento dos laminados, associado às técnicas de confecção que possibilitem laminados com bordas extremamente finas, garante a adaptação destas peças sem degraus ou desadaptações.
A ausência de desgastes também é uma condição fundamental para o sucesso em longo prazo do tratamento, principalmente na região cervical dos dentes. Se considerarmos que, nos dentes anteriores, a espessura do esmalte na região próxima à junção cemento/esmalte tem em média 0,31 mm³ mesmo nos preparos mais conservadores, durante a confecção do término cervical, a camada de esmalte é, inevitavelmente, removida nessa área, reduzindo a capacidade de vedamento da restauração pelo processo de cimentação adesiva e comprometendo a longevidade do tratamento.
Ortodontia e clareamento
É importante entender que todos os tratamentos com laminados cerâmicos, mesmo aqueles com finalidade exclusivamente estética e que abrangem somente os dentes anteriores, devem ser avaliados dentro de uma perspectiva global e transdisciplinar4-6. Todo tratamento com laminado é um tratamento protético e, como tal, deve considerar a funcionalidade e a atuação dos fatores oclusais.
Um favorável posicionamento dos dentes na arcada é um dos principais pré-requisitos para a confecção de laminados conservadores e para que seja possível evitar desgastes compensatórios em dentes mal posicionados. Para tanto, a atuação da Ortodontia previamente ao tratamento protético é fundamental4 .
Outro fator importante é considerar que laminados extremamente finos possuem também alta translucidez. Em função disso, o clareamento prévio do substrato é uma condição necessária para viabilizar a utilização das lentes, como veremos no caso clínico a seguir.
Figuras 1 e 2 – Fotos intrabucais, notar o bom padrão oclusal e o alinhamento dos dentes após Ortodontia. |
Figuras 3 a 5 – As imagens do sorriso evidenciam a presença de diastemas e de manchamento do esmalte dos dentes anterossuperiores, queixas relatadas pelo paciente. |
Figuras 10 a 12 – Análise estética do sorriso com o mock-up (notar harmonia entre a disposição e a forma dos dentes com o sorriso e o formato do rosto do paciente). |
Figuras 13 e 14 – Situação clínica após três semanas de clareamento caseiro (BM4 Power Bleaching – 22%), a cor mais clara do substrato facilita a execução do tratamento com laminados de mínima espessura e com translucidez. |
Figuras 17 a 19 – Laminados em cerâmica feldspática confeccionados pela técnica do troquel refratário (Ceramista: Hélio Oliveira). Observar a mínima espessura, especialmente na região cervical, o que possibilita que os laminados terminem em 0 e promovam a transição suave entre o dente e o laminado. |
Figuras 20 e 21 – Situação clínica um mês após a cimentação. Observar a saúde gengival e o volume vestibular compatível com o perfil gengival. Acesse pelo QR CODE o vídeo com o passo a passo da técnica de cimentação. |
Figuras 22 a 24 – Análise do sorriso do caso finalizado. Laminados em harmonia com o restante dos dentes e do sorriso, estética compatível e atendendo às expectativas do paciente. |
Figuras 25 a 27 – Follow-up de quatro anos. Observar a estabilidade dos laminados, a manutenção das características iniciais da cerâmica e a saúde gengival. |
Conclusão
A utilização de laminados conservadores cimentados sobre esmalte íntegro em condições ideais de adaptação, perfil de emergência, vedamento das margens e respeito às distâncias biológicas é uma técnica segura e que oferece sucesso em longo prazo. Para isso, técnicas laboratoriais que possibilitem laminados de mínima espessura e adequado protocolo de cimentação são indispensáveis.
O alinhamento dos dentes através da Ortodontia, prévia ao tratamento com laminados, bem como o clareamento do substrato, também favorecem planejamentos conservadores e devem sempre ser considerados, especialmente para pacientes jovens com dentes íntegros.
Referências
1. Strassler HE. Minimally invasive porcelain veneers: indications for a conservative esthetic dentistry treatment modality. Gen Dent 2007;55(7):686-94; quiz 695-6, 712.
2. Layton DM, Clarke M, Walton TR. A systematic review and meta-analysis of the survival of feldspathic porcelain veneers over 5 and 10 years. Int J Prosthodont 2012;25(6):590-603.
3. Atsu SS, Aka PS, Kucukesmen HC, Kilicarslan MA, Atakan C. Age-related changes in tooth enamel as measured by electron microscopy: implications for porcelain laminate veneers. J Prosthet Dent 2005;94(4):336-41.
4. Hiramatsu DA. Unique. Laminados cerâmicos passo a passo. Dos fragmentos às reabilitações adesivas. Quintessence, 2018.
5. Patroni S, Cocconi R. From orthodontic treatment plan to ultrathin no-prep CAD/CAM temporary veneers. Int J Esthet Dent 2017;12(4):504-22.
6. Veneziani M. Ceramic laminate veneers: clinical procedures with a multidisciplinary approach. IntJ Esthet Dent 2017;12(4):426-48.
Daniel Hiramatsu Graduado em Odontologia, mestre em Reabilitação Oral – Universidade de São Paulo (FOB/USP); Diretor Científi co – BOC São Paulo; Autor do livro Unique – Laminados Cerâmicos Passo a Passo. Quintessence, 2018. |