Autoaplicação e a banalização da HOF nas redes sociais
O Conselho Federal de Odontologia estabeleceu regras para manter a qualidade e a segurança da profissão. (Imagem: 123RF)

Autoaplicação e a banalização da HOF nas redes sociais

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Márcia Viotti debate a publicação de vídeos de autoaplicação de procedimentos de Harmonização Orofacial nas redes sociais. 

Se você é profissional que já atua na Harmonização Orofacial (HOF) ou está ingressando agora nesse mercado, deve ficar atento a algumas regras que visam estabelecer a qualidade e a segurança da nossa profissão. Tais regras foram estabelecidas pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO), antes mesmo da especialidade ser aprovada.

Estamos falando, especificamente, sobre a publicação de vídeos de autoaplicação nas redes sociais. Trata-se de uma prática condenada por nosso código de ética em todas as áreas da Odontologia e, especialmente, perigosas na Harmonização Orofacial.

É impossível não observar que as mídias sociais estão revolucionando a forma de divulgação dos nossos trabalhos, mas precisamos ter discernimento suficiente para enxergar que algumas práticas, como a autoaplicação, podem trazer riscos aos pacientes e danos à imagem de todos os cirurgiões-dentistas.

Devemos lembrar que os conteúdos que produzimos nas redes sociais encorajam outras pessoas a tentar repetir a execução daquelas técnicas. Isso inclui não só cirurgiões-dentistas iniciados na HOF, mas também – e, principalmente – profissionais de outras áreas, totalmente despreparados para tal procedimento. A situação se torna ainda mais perigosa quando o conteúdo compartilhado envolve vídeos de autoaplicação e fotos de “antes e depois”, que, muitas vezes, são enganosos ou exagerados em seus resultados.

Você pode acreditar que está mostrando ao público que é um profissional habilidoso, capaz de realizar o procedimento em você mesmo. No entanto, esse tipo de divulgação desvaloriza você e todos os demais profissionais do mercado, propagando a ideia errada de que tudo é fácil na HOF e que qualquer um pode executar aquela técnica.

Todos nós estamos perdendo! Esse conteúdo banaliza tudo o que é necessário saber sobre as características do produto injetado, os fatores considerados na escolha daquela técnica, o conhecimento de anatomia e a preparação para lidar com as intercorrências.

Vale uma reflexão: qual é a nossa parcela de responsabilidade pelas consequências de nossas postagens? Estamos encorajando profissionais despreparados a se aventurar na HOF? Estamos incentivando nossos pacientes a adquirir os produtos no mercado paralelo e a tentar a autoaplicação? Evidentemente, cada um deve responder pelas próprias atitudes, mas você também pode estar contribuindo para a construção desse cenário em que há sério risco de intercorrências, desde uma ptose palpebral causada por aplicação de toxina botulínica no local errado até uma cegueira por aplicação de ácido hialurônico em área indevida.

Apesar de ser uma atividade prazerosa, trabalhar com HOF não se resume a uma brincadeira de transformação de faces. Estamos falando da saúde e do bem-estar de nossos pacientes, principalmente quando fazemos tratamentos terapêuticos que, na maioria das vezes, são esquecidos por muitos profissionais injetores que dão ênfase somente à estética.

Não existe problema em utilizar as técnicas do chamado “marketing de conteúdo”, levando informação aos pacientes e atraindo-os para conhecer o nosso trabalho. A divulgação de nossos serviços é essencial para que alcancemos o sucesso profissional. No entanto, isso deve ser feito com responsabilidade. Invista na produção de conteúdos de valor, que sejam seguros aos pacientes, respeitem a profissão de forma que resulte em benefício para toda a sociedade.

Confira outras edições da coluna “Estruturas anatômicas”, de Márcia Viotti.